Título: Real forte é inevitável
Autor: Martins, Victor
Fonte: Correio Braziliense, 12/04/2011, Economia, p. 16

CONJUNTURA

O governo desistiu de vencer a guerra cambial. O maior indício é a mudança de comportamento do ministro da Fazenda, Guido Mantega. Mais do que qualquer outro representante dos países emergentes, ele personificou a grita contra o dólar desvalorizado. Agora, tanto publicamente como em conversas reservadas, admite que o fortalecimento do real é ¿inevitável¿. A equipe econômica já aceita conviver com o desequilíbrio cambial para ajudar no controle da inflação. O mercado percebeu isso e, pela primeira vez no ano, reduziu a projeção para a moeda norte-americana ao fim do ano. No levantamento semanal feito com cerca de 100 analistas, a estimativa caiu de R$ 1,70 para R$ 1,68. Alguns especialistas acreditam que a divisa ainda tem espaço para recuar e preveem um piso de até R$ 1,40.

Depois de tentar frear o derretimento do dólar com o aumento da tributação sobre empréstimos externos, mais uma vez sem sucesso, o governo entendeu que o custo para elevar a cotação é muito alto. Agora, a ordem para o BC é apenas suavizar o tombo. ¿O mercado sabe que mais medidas podem ser adotadas, algumas até severas. Porém percebeu que o governo não quer fazer isso em função de possíveis efeitos colaterais negativos à economia¿, observou Carlos Eduardo de Freitas, ex-diretor do BC. Ontem, a cotação fechou em R$ 1,581, com alta de 0,44%.

Para conseguir conter a tendência de queda, o governo precisa vencer uma montanha de US$ 20 bilhões imposta por estrangeiros no mercado futuro. Eles estão vendendo a moeda na expectativa de recomprá-la a uma valor menor mais à frente, o que está levando a cotação para o chão. A equipe econômica tem de enfrentar a entrada maciça de capital estrangeiro, que, apenas no primeiro trimestre, trouxe para o país US$ 31,3 bilhões, montante 46% superior ao registrado em todo o ano passado.

Armas ¿Dificilmente esse fluxo vai deixar de desembarcar no Brasil¿, avaliou Eduardo Oliveira, analista da corretora Um Investimento, que estima a cotação em R$ 1,40 no fim de dezembro. ¿O BC, hoje, tem duas batalhas para travar: a da inflação e a do câmbio. Não dá para lutar as duas ao mesmo tempo com as mesmas armas e ele acabou escolhendo parar a inflação¿, argumentou José Roberto Carreira, economista da Fair Corretora.

Para o Itaú Unibanco, o patamar de R$ 1,58 alcançado pelo dólar na última semana será rompido em breve. A previsão da instituição para o fim do ano está em R$ 1,55. ¿As medidas de intervenção no mercado de câmbio e de controles de capital (por exemplo, taxação dos empréstimos de curto prazo) não foram suficientes para alterar a trajetória do câmbio. Os fundamentos apontam para valores ainda mais baixos que os atuais¿, assegurou o economista-chefe do banco, Ilan Goldfajn. O banco norte-americano Morgan Stanley tem uma visão mais otimista, calculando que a divisa feche 2011 em R$ 1,65.