Título: Uma abertura para o Pacífico
Autor: Claudia Mancini
Fonte: Gazeta Mercantil, 08/12/2004, Primeira página, p. A-1

Comunidade Sul-Americana de Nações é um sinal para os investidores. O ministro das Relações Exteriores, Celso Amorim, afirmou a este jornal que a Comunidade Sul-Americana de Nações, que está sendo criada hoje, em Cuzco, sob os pilares comercial, político e de integração de infra-estrutura, não é retórica. "Se fosse, o Brasil não iria participar".

A idéia do acordo, amplamente defendida pelo presidente Luiz Inácio Lula da Silva e pelo chanceler, está sendo anunciada sem uma agenda bem definida. Está nascendo basicamente sobre os acordos comerciais assinados entre os países sul-americanos e pela integração física que existe e se tenta melhorar.

"O simbolismo é muito importante na política. Ter essa comunidade também é um sinal para os empresários, para os investidores", afirmou Amorim.

Mas, diz ele, prova de que não é um acordo só de papel é que está ocorrendo após a finalização da negociação de acordos comerciais do Mercosul com Peru, Equador, Colômbia e Venezuela, que são da Comunidade Andina de Nações (CAN). Apesar das declarações do ministro, o fato de Lula ser o único presidente do Mercosul a participar do evento alimenta dúvidas.

A comunidade tem relação com a intenção do Brasil de ter influência maior sobre a região. Uma das vias é a comercial, tanto que o acordo entre Mercosul e CAN foi fechado dando-se preferências às economias menores, que poderão fazer aberturas mais lentas. Com isso, o Brasil espera não apenas aumentar o comércio, mas também diminuir o forte desequilíbrio na balança a seu favor. Esse desequilíbrio, comenta-se, foi cobrado pelos andinos.

"Tem havido tremendo desequilíbrio em favor nosso, é preciso fazer com que eles (os outros países sul-americanos) olhem para o Sul, que vendam aqui e que os nossos investidores invistam lá", disse Celso Amorim.

Como outros países da comunidade têm saída para o Pacífico, o acordo pode facilitar o acesso do Brasil àquele oceano e os países asiáticos à sua borda e que terão destaque na política externa brasileira em 2005.