Título: Emprego e renda evidenciam o crescimento
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Fonte: Gazeta Mercantil, 08/12/2004, Opinião, p. A-3
A demanda por executivos, da média gerência aos cargos mais elevados, no mês de novembro, cresceu 47% em relação ao mesmo mês do ano passado, segundo pesquisa realizada por uma consultoria de recursos humanos com base em anúncios publicados nos principais jornais de São Paulo. E no acumulado dos onze primeiros meses do ano, o crescimento foi de 40% em relação a igual período do ano passado.
Esses dados, divulgados ontem por este jornal, corroboram o fato de que o País surfa com certa habilidade na onda de crescimento dos países em desenvolvimento, proporcionada pelas condições até agora favoráveis da economia internacional.
É sintomático que os executivos mais procurados tenham sido os de setores de frente num período de crescimento: marketing e vendas (39%), profissionais de produção/técnica (32%) e finanças e controladoria (18%). Outros setores importantes cresceram menos, pelas suas próprias características complementares ou pela não criação de novas unidades na atual fase da economia, mas ainda assim registraram evolução positiva: gerência geral e de unidades de negócios (6%) e serviços de apoio, como tecnologia da informação, recursos humanos e departamento jurídico (5%).
Os dados mais recentes sobre o emprego na indústria nacional, relativos ao mês de setembro, divulgados há cerca de 15 dias pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), mostram um crescimento mais acentuado de vagas em dois setores ¿ máquinas e equipamentos e meios de transporte, fundamentais para o desenvolvimento de outros segmentos. No primeiro deles, o crescimento em relação a setembro de 2003 foi de 16,5%; e no segundo, de 11,2%. É preciso lembrar, entretanto, que esse crescimento foi sobre uma base muito baixa, de 2003, ano em que o desemprego aumentou muito e a economia permaneceu praticamente estagnada.
Ainda em setembro, a renda do trabalhador na indústria cresceu 10,2% em relação a igual mês de 2003. Em outubro, a renda média real do trabalhador em geral, não só o da indústria, era de R$ 900,20, com crescimento de 2,6% em relação ao mesmo mês do ano passado. Já a taxa de desocupação total caiu de 12,9% em outubro de 2003 para 10,5% nesse mesmo mês deste ano.
Outro indicador importante é a evolução da folha de pagamento média, que cresceu 6,5% de setembro de 2003 a setembro de 2004, aumentou 6,2% nos últimos 12 meses e acumulou um crescimento de 8% nos nove primeiros meses do ano. Além disso, tiveram destaque os setores de máquinas e equipamentos (34%), meios de transporte (22%) e alimentos e bebidas (8,2%).
Dados do Cadastro Geral de Empregados e Desempregados (Caged) do Ministério do Trabalho mostram que nos dez primeiros meses foram criados 1,8 milhão de empregos com carteira assinada, um crescimento de 7,72% em relação ao mesmo período de 2003. Ainda assim, há pelo menos 8 milhões de desempregados no País.
O grande desafio para os próximos anos é não só criar vagas no mercado de trabalho para todos esses desempregados e mais os 1,5 milhão de jovens que todo ano chega à idade de buscar o primeiro emprego, mas também resgatar para a classe média os 2,56 milhões de pessoas que caíram para os níveis mais baixos do extrato econômico da sociedade do ano de 2002 para 2003, segundo estudo do Centro de Estudos Sindicais e de Economia do Trabalho (Cesit) da Universidade de Campinas. Nesse mesmo período, todas as classes econômicas tiveram perda de renda: classe média alta (-4,74%), média-média (-1,57%), média baixa (-1,05%), massa trabalhadora (-0,4%), pobre (-0,12%) e indigente (-0,18%).
Para o desenvolvimento de um país, como disse há duas semanas o ex-primeiro-ministro espanhol Felipe Gonzalez em um fórum internacional em São Paulo, é crucial uma política de distribuição de renda de forma eficiente. Disse mais: "Uma economia que concentra riqueza e, antes de chegar à redistribuição, atinge uma crise e segue concentrando riquezas, é uma economia que nunca será eficiente no médio e longo prazos." Essa é uma história muito conhecida dos brasileiros, que esperam a distribuição desde a época do chamado "milagre brasileiro" na década de 70, quando o então ministro da Fazenda Delfim Netto disse que primeiro era preciso fazer o bolo crescer para depois dividi-lo.
Felipe Gonzalez também tocou num ponto fundamental: "O capital humano é o diferencial de desenvolvimento de uma economia." E isso significa mais educação, melhor qualificação de mão-de-obra, melhores salários e redução do desemprego. E isso depende não só do governo, mas também das empresas.