Título: Setor de petróleo procura especialistas
Autor: Lívia Ferrari
Fonte: Gazeta Mercantil, 31/08/2004, Carreiras, p. A-25

Senai, CoopFurnas e UFF estruturam cursos para atender demanda da indústria naval. O renascimento da indústria naval a partir da construção das plataformas de petróleo nos estaleiros fluminenses encontra na falta de mão-de-obra especializada um dos obstáculos para sua expansão. Com a recente reativação do setor naval, após vinte anos sem encomendas de grande porte, centros de formação e qualificação de pessoal se reestruturam para atender à forte demanda do mercado por trabalhador qualificado.

A Universidade Federal Fluminense (UFF), em Niterói, está estruturando a criação de cursos de graduação e pós-graduação em Engenharia Naval e Offshore. O objetivo é que estejam implementados no próximo ano letivo. "O currículo dos novos cursos está sendo construído com base em sugestões do setor empresarial, sobretudo representantes dos estaleiros, a fim de que atendam às necessidades objetivas do mercado", explica o superintendente do departamento naval da Secretaria de Energia, Indústria Naval e Petróleo do estado do Rio de Janeiro, Roberto Silva.

A retomada de encomendas do setor naval se reflete nos indicadores industriais do estado. Segundo estatísticas da Federação das Indústrias do Estado do Rio de Janeiro (Firjan), divulgadas ontem, no acumulado dos primeiros sete meses deste ano, o setor de material de transporte (onde está incluída a indústria naval) aumentou em 31,2% sua taxa de ocupação de mão-de-obra, na comparação com mesmo período do ano passado. Foi o setor industrial, entre os treze pesquisados pela Firjan, que mais elevou o nível de emprego.

O setor de material de transporte também registrou o maior crescimento de vendas reais até julho deste ano: 127,86% em relação a janeiro-julho de 2003, de acordo com a pesquisa. A economista chefe da assessoria de pesquisas econômicas da Firjan, Luciana de Sá, lamenta não dispor de um índice específico de aferição do comportamento da indústria naval. Segundo ela, esse setor embute forte sazonalidade: uma grande encomenda, num determinado período, tem poder de distorcer resultados.

O estaleiro Eisa, localizado na Ilha do Governador (RJ), contratou, somente neste ano, 300 empregados. O estaleiro, praticamente parado durante anos, voltou a operar a partir das licitações da Petrobras, principalmente na área de "offshore". Atualmente são 1,5 mil empregados, 700 dos quais contratados em 2003.

A expectativa é de crescimento sustentado do setor naval, que aguarda futura licitação da Transpetro para a construção de 22 petroleiros. Na esteira das grandes encomendas, o governo desenvolve estudos viabilizar financiamentos aos estaleiros. A questão de financiamento ao setor sempre esbarrou na falta de garantias pelos estaleiros.

"Os estaleiros nos procuram, cada vez mais, para ministrar cursos de formação de mão-de-obra especializada", diz o presidente da CoopFurnas, Astor Alberto Muniz, em negociações com a Brasfels (estaleiro em Angra dos Reis, no Rio) e Jurong (em Niterói) para prestação de serviços de formação de pessoal.

Os cursos oferecidos pela CoopFurnas, fundada por ex-profissionais de Furnas (principalmente engenheiros), são ministrados por especialistas de Furnas, Petrobras e Eletrobrás, principalmente. São cursos técnicos com duração média de cinco meses, focados na especialização de operadores no setores da produção de petróleo e termelétricas, diz Muniz. Nos últimos três anos já foram treinados mais de 500 técnicos pela CoopFurnas, a maioria deles absorvida pelo mercado.

A exploração do petróleo em águas profundas interliga definitivamente as indústrias naval e do petróleo, observa o presidente da Firjan , Eduardo Eugenio Gouvêa Vieira. O Senai, ligado à Firjan, estruturou e administra diversos cursos técnicos específicos para qualificar os trabalhadores do setor.

"Somente para cursos e treinamentos específicos para o setor de petróleo, o Senai promoveu cerca de 3,7 mil atendimentos entre 2002 e 2004", contabiliza o gerente de Produtos do segmento Petróleo e Gás do Senai, Ziney Dias Marques. Esses números não incluem cursos profissionalizantes, onde apenas para soldadores - item crítico para a indústria do petróleo e da construção naval - foram, ministrados cerca de 2,3 mil treinamentos somente no Centro de Tecnologia de Soldagem no Rio de Janeiro (Cetec/Solda) entre janeiro de 2003 e junho de 2004, diz o gerente, que coordena cursos de diversas naturezas, entre eles, inspetores de ensaios não destrutivos, inspetores subaquáticos, mergulho profissional raso, sonda de perfuração, corte e solda subaquática.

Orgulhoso de sua atividade, Marques destaca que a primeira turma de pós-graduação em automação industrial dos sistemas de produção, refino e transporte de petróleo do País, aprovada pelo Ministério de Educação, foi iniciada em março último no Instituto Senai de Educação Superior, no Rio.

kicker: Universidade Federal Fluminense adaptou currículo às necessidades do mercado