Título: Temer diz ser irreversível a convocação da convenção
Autor: Sérgio Pardellas
Fonte: Gazeta Mercantil, 08/12/2004, Política, p. A-14
Clima é beligerante, membros já falam em resolver a questão na Justiça. No PMDB mais uma vez a história se repete. Resta saber se como farsa ou tragédia. Hoje às 11h, o partido abre uma nova reunião da Executiva nacional dividido entre forças irremediavelmente antagônicas. Em questão o adiamento ou não da convenção marcada para domingo, que decidirá pelo desembarque ou não do partido do governo.
O encontro, no entanto, deve parar na Justiça. O clima é beligerante. Ontem, sob o argumento de que estaria respaldado por um pedido de 11 diretórios do partido, o presidente do PMDB, deputado Michel Temer (SP), assegurou a manutenção da convenção qualquer que seja o resultado da Executiva ¿ em tese a única instância partidária capaz de adiar a reunião de domingo. A ala governista, porém, liderada pelos senadores Renan Calheiros (AL), líder do PMDB no Senado, e José Sarney (AP), presidente do Congresso, rebate. Diz contabilizar a maioria dos votos e promete recorrer à Justiça caso a Executiva decida pelo adiamento e a convenção for oficializada pela presidência do partido. Ou seja, mais um racha à vista no PMDB." Não tem como adiar a convenção. Já está convocada. Não tem mais volta. Qualquer resultado da Executiva será inócuo", afirmou ontem Temer, confirmando o que dissera na segunda a Renan. Em reunião na liderança do PMDB até o final da noite de anteontem, Temer asseverou, irredutível, que "nem por liminar a convenção seria adiada".
Batalha na Justiça
As duas alas, os governistas e os que defendem a entrega dos cargos federais, já se preparam juridicamente para a batalha após a convenção. O desfecho é imprevisível. Mesmo a convenção decidindo pelo desembarque, nada garante que os ministros Eunício Oliveira, das Comunicações, e Amir Lando, da Previdência, deixarão os cargos. Os governistas acusam os chamados "independentes" de querer apenas mudar a tripulação. Ou seja, sair do governo para voltar mais adiante com novos quadros. Dessa vez, sob a orientação de Temer e do líder do partido na Câmara, José Borba.
"Isso não existe, sempre formos favoráveis ao rompimento", rebateu ontem o deputado Eliseu Padilha (PMDB-RS).
Ontem, foi mais um dia de reuniões e negociações de bastidor sob os olhos atentos do Planalto, o mais interessado num final feliz em favor dos governistas. Enquanto Renan, convencido da maioria dos votos pelo adiamento, preparava em seu gabinete o ato de convocação da Executiva, Temer, o deputado Geddel Vieira Lima (PMDB-BA) e mais sete peemedebistas almoçavam com o governador do Distrito Federal, Joaquim Roriz. No final do almoço, o govenador Maguito Vilela (GO) propôs a Temer (SP), uma saída para tentar acabar com o impasse: os peemedebistas entregariam seus cargos ao presidente Lula , a convenção seria suspensa e o PMDB faria uma declaração em defesa do lançamento de candidatura própria ao Palácio do Planalto em 2006.
A proposta, única maneira, segundo Temer, de suspender a convenção, foi recebida como uma provocação pelos aliados de Renan. Em entrevista coletiva, horas depois, Temer reconheceu a dificuldade de um consenso.
kicker: Ala governista afirma ter votos suficientes para vencer oposionistas e ficar na base