Título: Lula será único presidente do Mercosul
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Fonte: Gazeta Mercantil, 08/12/2004, Internacional, p. A-15

Representantes de 12 países dão início à Comunidade Sul-Americana de Nações. O presidente Luiz Inácio Lula da Silva será o único chefe de Estado dos países do Mercosul a comparecer à solenidade de fundação da Comunidade Sul-Americana de Nações, evento que marca o início do que poderá ser uma união política de 12 países da região.

A notícia de que Paraguai e Uruguai engordaram a lista, já composta pela Argentina, de países que não enviarão seus presidentes à reunião. O presidente do Equador também não deverá comparecer ao evento. A criação dessa comunidade é um dos desejosmais antigos do presidente Lula e do chanceler brasileiro, Celso Amorim. A falta de outros presidentes ao evento reduz o brilho da festa e aumenta especulações sobre as dificuldades de integrar a região.

O ato oficial de criação da comunidade, composta ainda pelos países andinos Bolívia, Peru, Venezuela e Colômbia, além do Chile, Guiana e Suriname, está marcado para hoje, no centro histórico de Cuzco, no Peru.

Os presidentes da Argentina (Néstor Kirchner), Paraguai (Nicanor Duarte Frutos) e Uruguai (Jorge Batlle) desistiram de participar do encontro depois que Lula já havia confirmado sua presença.

O ministro das Relações Exteriores do Peru, Manuel Rodriguez Cuadros, negou algum tipo de constrangimento político e não considerou que o evento esteja desprestigiado pelos que faltarão. Não é a primeira vez que o presidente argentino falta a um evento de cúpula. Mais de uma razão foi dada pelo governo para a falta de Kirchner (de saúde e de ociosidade de eventos desse tipo).

Os presidentes do Uruguai e Paraguai alegaram problemas internos em seus respectivos países. O novo grupo sul-americano, espelhado na União Européia e inspirado no sonho de integração regional do líder venezuelano Simon Bolívar, será instituído por meio de um ato de fundação, mas não contará, num primeiro momento, com estrutura fixa e orçamento próprio.

O primeiro passo da recém-criada comunidade será inaugurar uma mesa de diálogo para dar consistência à proposta de integração e tentar formular um pacto ambicioso de apoio mútuo sobretudo nas áreas de infra-estrutura.

"Nos últimos 30 anos buscamos uma América Latina capacitada a agir internacionalmente de maneira eficiente, mas não tivemos sucesso, porque os países da América do Sul estão dividos, em vez de unidos", disse o ministro das Relações Exteriores do Peru, Manuel Rodriguez. "Com essa nova comunidade, a América Latina será fortaecida." "Estamos falando de 17 milhões de km², com 361 milhões de habitantes, um PIB por região de mais de US$ 973 bilhões, e exportações acima de US$ 180 bilhões", disse Rodriguez. O ministro peruano acrescentou que o PIB combinado da América do Sul excede o do Canadá, e "é bem maior, em mais de US$ 200 bilhões, que o dos famosos tigres asiáticos."

Blasco Penaherrera, ex-vice-presidente do Equador, que posteriormente foi embaixador na Organização dos Estados Americanos (OEA), é um dos críticos mais ferrenhos à proliferação de organizações regionais na América Latina. Penaherrera disse que as reuniões de cúpula produzem "declarações retumbantes e repetitivas. Se compararmos os documentos que resultam desses encontros, veremos que são sempre os mesmos, todos retóricos, empolados, e nada objetivos."

Os críticos disseram que a Comunidade Andina justifica o ceticismo sobre o sucesso do novo grupo. Nos 35 anos desde que foi formado, o bloco ainda não chegou a um consenso sobre tarifas comuns para seus membros.

Em Buenos Aires, o presidente da Comissão de Representantes Permanentes do Mercosul, Eduardo Duhalde, disse que o bloco está muito interessado em um acordo comercial com os países árabes. "Está sendo organizada uma conferência para março, no Marrocos, para a qual fui convidado a preparar uma reunião, porque o Mercosul está muito interessado em conseguir um acordo comercial com todos os países árabes", disse Duhalde após se reunir com o rei do Marrocos, Mohammed VI. "Trata-se de identificar os setores, porque nossas economias são, certamente, complementares."