Título: Passo tímido na parceria Brasil-China
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Fonte: Correio Braziliense, 14/04/2011, Opinião, p. 26

Visão do Correio

A prática diplomática é um exercício de paciência. Dá-se um passo por vez, avança-se aos poucos. Na viagem da presidente Dilma Rousseff à China, os resultados políticos seguiram o ritmo tradicional; os comerciais surpreenderam pelo volume de negócios. Parceiros no Bric, grupo que compõem com a Rússia e a Índia (além de mais recentemente com a África do Sul, ainda não representada na sigla), Brasília e Pequim ficaram devendo posturas mais firmes de apoio mútuo.

De cá para lá, os afagos até foram razoáveis. Comprometemos-nos a trabalhar ¿de forma expedita¿ pelo reconhecimento da potência asiática como economia de mercado. E praticamente nos silenciamos, de forma condenável, sobre a delicada situação dos direitos humanos naquele país. A questão foi minimizada por Dilma a ponto de ela declarar que ¿todos os países¿ têm problemas do gênero. Igual leveza revestiu o trato da delicada desvalorização do yuan, a moeda nacional, artifício que dá maior competitividade aos produtos chineses no mercado internacional.

De lá para cá, a pretensão brasileira de ganhar assento no Conselho de Segurança das Nações Unidas obteve o vago compromisso chinês de que compreende e aprova a aspiração do país de ¿vir a desempenhar um papel mais proeminente¿ na ONU. Pode-se até argumentar que Hu Jintao foi além do colega norte-americano, Barack Obama, que se limitou a registrar, em março, ter apreço pela proposta. E temos de louvar a abertura do país à carne de porco brasileira, ainda que apenas três frigoríficos, de 13 que se candidataram a exportar, tenham sido habilitados.

No mais, o anúncio de investimentos superiores a US$ 12 bilhões são negócios bem-vindos, que não se concretizariam sem a bênção do Partido Comunista, verdadeiro motor da dita economia de mercado. Ressalte-se que tamanha fortuna produzirá equipamentos de ponta no Brasil, como iPad, além de contemplar a importação de aviões da Embraer. E que um dos principais interesses brasileiros em relação à China, hoje nosso maior sócio comercial, é mudar o perfil da pauta de exportações para aquele país, hoje concentrada em commodities, com a inclusão de mais produtos de maior valor agregado.

Em suma, Brasil e China deram um passo tímido rumo a uma parceria cujo intercâmbio comercial ultrapassa os US$ 50 bilhões. Perderam a oportunidade de intensificar a colaboração e fortalecer o Bric, cujos membros se reúnem a partir de hoje em Sanya, na ilha da Hainan. Talvez faltem a Brasília e a Pequim ousadia para despirem-se da fantasia de emergentes e assumirem o papel de protagonista que cabe a cada um exercer no planeta, como gigantes econômicos que são ¿ respectivamente, sétima e segunda maiores economias.