Título: Juros bancários têm alta em agosto
Autor: Edna Simão
Fonte: Gazeta Mercantil, 31/08/2004, Finanças & Mercados, p. B-1
Inadimplência média das carteiras, em 7,1%, é a menor da série histórica, iniciada em 2000. O movimento de redução das taxas cobradas na ponta já começa a ser interrompido. Com a possibilidade de aumento da Selic e a reversão da estrutura a termo de juros, os bancos colocaram o pé no freio e pararam de queimar a gordura existente no "spread" bancário, a diferença entre o custo de captação e a remuneração que recebem pelo dinheiro emprestado. A perspectiva para a expansão dos volumes desembolsados é de crescimento em percentuais menores do que os verificados até aqui.
"A curva de juros futuros se inverteu e não é para se esperar queda da taxa para pessoas físicas e jurídicas", disse o chefe do Departamento Econômico do Banco Central (Depec), Altamir Lopes. Nos 13 primeiros dias úteis de agosto, dados do BC mostram que os juros começaram a subir em relação a julho. A taxa média de juros dos empréstimos bancários saltou de 43,9% para 44,9%. Para pessoa física, o custo avançou de 62% para 62,8%. Já no segmento empresas houve um aumento de 29,7% para 30% ao ano.
Isso mostra que o BC tem obtido êxito na sua estratégia de gerenciar as expectativas dos agentes financeiros: tem feito política monetária sem, necessariamente, elevar a taxa primária da economia.
Em julho, mesmo com a ligeira redução da taxa média cobrada pelos bancos, a queda dos custos pagos para captar recursos não foi repassada aos clientes. De junho para julho, a taxa de captação cedeu 0,3 ponto percentual, a 16,7%. O percentual cobrado pelos bancos nas operações de empréstimo, no entanto, caiu apenas 0,1 ponto percentual, de 44% para 43,9% ao ano. Por este motivo, o "spread" bancário fechou julho com alta de 0,2 ponto percentual em relação ao mês anterior, em 27,2 pontos.
Segundo Lopes, a taxa média de juros cobradas das empresas ficou estável em 29,7% ao ano. Até o mês passado, apenas as pessoas físicas estavam pagando menos na hora de tomar um empréstimo. A taxa cedeu de 62,4% para 62%, menor nível desde julho de 1994, início da série do BC.
Lopes associou a redução dos juros para pessoa física à migração dos clientes para linhas de crédito mais baratas. A taxa do crédito pessoal caiu de 71,9% em junho para 71,7% ao ano em julho, a menor desde março de 2001. Os juros menores cobrados nas operações com desconto em folha de pagamento puxaram a média para baixo. O custo cobrado nas linhas garantidas por salários ficou em 38,1% na média, com um total de empréstimos de R$ 8,231 bilhões. O custo do cheque especial fechou o mês em 140,1%, o mais baixo desde dezembro de 1999. "A migração entre linhas de crédito mostra que as famílias estão buscando caminhos mais baratos para se financiar."
Segundo números divulgados ontem pelo BC, em julho as operações de empréstimos do sistema financeiro totalizaram R$ 446,954 bilhões (26,2% do PIB), o que corresponde a um aumento de 0,9% em relação a junho (R$ 443,045 bilhões ou 26,1% do PIB). Para Lopes, o volume de empréstimo apresentou um nível elevado. A perspectiva, agora, é de que o crescimento das operações de crédito seja menor devido à recuperação da renda do trabalhador.
Do total de R$ 254,679 bilhões de operações com recursos livremente direcionados pelos bancos, R$ 152,889 bilhões estão aplicados em operações para empresas e R$ 101,790 bilhões para pessoas físicas. Dentre as empresas, os empréstimos que apresentaram maior crescimento foram aqueles vinculados a investimentos. No caso das pessoas físicas, o aumento está relacionado com o crédito com desconto em folha.
Lopes disse, ainda, que a taxa de inadimplência dos empréstimos em julho foi a menor da série histórica, iniciada em 2000, chegando a 7,1%. Para empresas, a taxa chegou a 12,7% - a mais baixa desde junho de 2001.(