Título: Vale e Thyssen farão usina de US$ 3 bi
Autor: Daniele Carvalho e agências
Fonte: Gazeta Mercantil, 06/12/2004, Indústria & Serviços, p. A-11

Estudo de viabilidade ficará pronto em 2005; a produção será de 4,4 milhões de toneladas. A Companhia Vale do Rio Doce (CVRD) e a alemã ThyssenKrupp Stahl assinaram na última sexta-feira memorando de entendimentos para a construção de uma usina integrada de placas no município de Itaguaí (RJ). O acordo é o terceiro anunciado neste ano pela mineradora para a construção de siderúrgicas no País, reafirmando sua estratégia de aumentar o consumo de minério de ferro no mercado interno a longo prazo. As cifras do empreendimento podem chegar a US$ 3 bilhões.

Os estudos de viabilidade para a construção da nova usina - batizada de Companhia Siderúrgica do Atlântico (CSA) - deverão ser concluídos até meados do ano que vem. A siderúrgica deverá ter capacidade de produção de 4,4 milhões de toneladas anuais e o início de sua produção é estimado para 2008. De acordo com pessoas ligadas à negociação, o projeto contempla, ainda, a construção de um braço para o Porto de Sepetiba (localizado nas proximidades da nova siderúrgica) e de uma termoelétrica, que operaria com o calor provenientes de seus altos-fornos. Em nota, a Thyssen afirmou que os investimentos devem atingir cerca de ¿ 1,3 bilhão.

Em nota, a Vale afirmou que o apoio ao empreendimento poderá se materializar através de contratos de longo prazo para a venda de minério de ferro garantindo fornecimento futuro e/ou de participações acionárias minoritárias.

Sócios chineses e sul-coreanos

Os projetos siderúrgicos da mineradora, incluindo a parceria com a Thyssen, envolvem a produção de 15,9 milhões de toneladas de aço. A Vale já assinou memorando com a sul-coreana Posco para a construção de uma usina no futuro pólo de São Luís, um investimento estimado entre US$ 1,5 bilhão e US$ 3 bilhões com a produção de cerca de 4 milhões de toneladas. Há também um acordo firmado com a sul-coreana para o fornecimento de 103 milhões de toneladas de minério de ferro entre 2005 e 2015.

A Vale ainda planeja construir uma usina em parceria com a chinesa Baosteel , também no Maranhão, que prevê aportes de pelo menos US$ 1,1 bilhão. Esse projeto pode contar ainda com a participação acionária da européia Arcelor, maior siderúrgica do mundo. Uma parte dos investimentos será financiada pelo Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES), que deverá ter participação acionária nos empreendimentos, numa estratégia para fortalecer a presença brasileira na siderurgia mundial. A Vale ainda estuda a implantação de um pólo mínero-metalúrgico em Corumbá (MS).

Negociações começaram em abril

Para o secretário de Desenvolvimento Estado do Rio de Janeiro, Humberto Mota, o projeto reafirma a vocação do estado para a área de siderurgia. Ele disse estar satisfeito com a velocidade com que o negócio foi fechado. "As primeiras conversas aconteceram na cidade alemã de Hannover, em abril, durante uma feira industrial. Conseguimos avançar com a proposta em tempo recorde", disse ele. As obras da siderúrgica deverão ter início em 2006 e podem gerar até 10 mil empregos diretos. Já na fase de operação, a siderúrgica terá um quadro de cerca de quatro mil funcionários.

Em relatório divulgado na última sexta-feira, analistas do Banco Brascan consideraram a negociação com a ThyssenKrupp positiva para a mineradora brasileira. "Acreditamos que esta é mais uma boa notícia para a Vale, dado que a empresa será sócia de mais um projeto para promover o consumo de seu minério".

A estratégia é tida pelos analistas como uma alternativa para garantir a venda da produção da Vale, que crescerá nos próximos anos. "Considerando o volume a ser produzido nos três projetos, as vendas de minério de ferro para estas unidades podem somar 24 milhões de toneladas anuais no mínimo. Este volume representaria 15% das vendas estimadas da Vale para 2004. Como a Vale vai dispor de um acréscimo de 63 milhões de toneladas por ano em sua produção de minério de ferro até 2008, o consumo destas três usinas siderúrgicas representará 40% deste incremento", avaliam os analistas.

Entre as maiores do mundo

A ThyssenKrupp figura entre as dez maiores siderúrgicas do mundo, com capacidade de produção de cerca de 19 milhões de toneladas. No ano fiscal 2003/2004, o faturamento da empresa foi de ¿ 13,7 bilhões, com a venda de 14,2 milhões de toneladas, para a produção de aproximadamente 17 milhões de toneladas de aço, de acordo com informações da empresa alemã. O lucro líquido do ano fiscal foi de ¿ 911 milhões. A empresa possui cerca de 47 mil funcionários, espalhados em 94 unidades de produção. Fabrica principalmente aços planos (nas usinas da Alemanha, Itália, França, Espanha, China e Estados Unidos) e aço inox (Alemanha, Itália, México, China e EUA).

Em junho, Thyssen e a Companhia Siderúrgica Nacional (CSN) travaram uma disputa pelo controle da laminadora GalvaSud, de Porto Real (RJ). A CSN, que detinha 51% da empresa, pagou R$ 89,3 milhões para adquirir os 49% da participação pertencente à empresa alemã. O negócio foi realizado num leilão nos Estados Unido: ficava com 100% da empresa quem oferecesse mais dinheiro pela participação do outro sócio.

Margens devem continuar altas

O presidente do conselho administrativo da International Steel Group Inc., Wilbur Ross, disse prever que as margens de lucro obtidas com a comercialização do aço permanecerão "muito sólidas"'' no ano que vem, mesmo que os preços da commodity venham a cair, pois alguns custos poderão diminuir.

A escalada dos preços do aço ocorrida este ano ultrapassou o aumento dos custos das matérias-primas, como o coque siderúrgico e o minério de ferro, disse Ross. Os preços das importações de bobinas de aço laminado a quente, referenciais para o mercado, mais que dobraram este ano, segundo a publicação Metal Bulletin.

As siderúrgicas já estão pagando cerca de 20% mais pelo coque siderúrgico e pelo minério de ferro este ano. A Arcelor afirmou semana passada que prevê pagar, em média, até 40% mais por suas matérias-primas no ano que vem.

A expansão da demanda por aço será puxada no ano que vem por regiões como a América do Sul e o Leste Europeu, além de países como a China. O crescimento da Europa Ocidental e dos Estados Unidos será, provavelmente, inferior. As siderúrgicas e outras produtoras de commodities deverão anunciar lucros mais elevados por vários anos, num momento em que a China puxa a escalada da demanda mundial por metais e produtos minerais, disse Ross. "A próxima década será a década do setor primário e das commodities, assim como a década de 1990 foi a da tecnologia", disse Ross.