Título: Tecnologia e serviços nos funerais
Autor: Amundsen Limeira
Fonte: Gazeta Mercantil, 06/12/2004, Comércio & Serviços, p. A-13

Estima-se que os investimento programados para o País já movimentam R$ 3 bilhões. O ensolarado litoral sul da Bahia serviu de cenário para o inusitado encontro de empresários de um ramo de negócios que, de quatro anos para cá, não pára de crescer, no Brasil. Reunidos na Costa do Sauípe, cerca de 60 proprietários de cemitérios participaram do VIII Encontro Nacional dos Cemitérios Particulares.

O evento, realizado na última semana de novembro, serviu para divulgar as novidades do mercado e os investimentos programados por esse setor que, estima-se, movimenta cerca de R$ 3 bilhões por ano, no País.

Apesar de não serem vistos como um ramo de negócios, "os cemitérios são um negócio para o resto da vida", brinca Jayme José Adissi, presidente do Sindicato dos Cemitérios Particulares (Sincep) e da Associação dos Cemitérios Particulares do Brasil (Acembra).

Segundo Adissi, existem hoje no Brasil entre 500 e 600 cemitérios particulares em operação. Deste total, apenas uns 250 têm administração profissionalizada e investem em novos serviços, como velório virtual, acompanhamento psicológico e, principalmente, crematórios como alternativa ao sepultamento tradicional.

Para se ter uma idéia, há quatro anos, só havia um crematório em todo o território nacional: o da Vila Alpina, que pertence à Prefeitura de São Paulo. Atualmente, são 19, a grande maioria instalada nos cemitérios particulares.

Ao mesmo tempo, seis novos projetos encontram-se em fase de construção. São empreendimentos que, juntos, absorverão R$ 12 milhões, no mínimo, em investimentos. Três estão na região da Grande São Paulo, um em Caxias do Sul (RS), outro em Joinville (SC) e mais um em Sorocaba (SP).

Até o crematório de Vila Alpina está investindo na modernização dos seu equipamento. A Prefeitura paulistana acaba de concluir a licitação para a compra de dois fornos, operação na qual desembolsou algo em torno de R$ 600 mil.

"Todos esses investimentos são feitos com recursos próprios porque não há linha de crédito para cemitérios, no Brasil", destaca Jayme Adissi, que também é proprietário do Cemitério Primaveras, localizado em Guarulhos, na Grande São Paulo. Adissi aproveitou o congresso na Costa do Sauípe para apresentar o primeiro crematório privado da Região Metropolitana de São Paulo: o Crematório Metropolitana Primaveras, empreendimento de R$ 2,5 milhões inaugurado oficialmente no último Dia de Finados (2 de novembro). Somente para trazer o forno dos Estados Unidos (o Brasil não produz o equipamento), o empresário desembolsou o correspondente a R$ 160 mil entre a compra propriamente dita e impostos.

"Cresceu muito a procura pelo serviço de cremação. Acredito que a tendência é aumentar ainda mais o número de crematórios porque há demanda para isso", prevê o presidente do Sincep.

Um indicador do crescimento desse mercado é o programa de expansão do grupo gaúcho Cortel, com sede em Porto Alegre, dono de seis cemitérios, dois crematórios e uma funerária. O grupo está investindo R$ 3 milhões, com recursos próprios, na construção do Cemitério Parque, de 14 hectares de área e capacidade para 40 mil jazigos. "Este empreendimento será inaugurado ainda no primeiro semestre de 2005", diz José Elias Flores Junior, vice-presidente do Cortel, para quem uma das principais características do cemitério é ser um empreendimento de longo prazo.

O grupo deverá encerrar este ano com faturamento da ordem de R$ 13 milhões, 16% a mais sobre os R$ 11,2 milhões de 2003. Os cemitérios respondem por 60% da receita total, os serviços funerários por 12% e os crematórios pelos 28% restantes. Juntos, empregam 230 funcionários.

"O serviço de cremação cresceu seis pontos percentuais em relação ao ano passado", acrescenta Flores Junior. Utilizada basicamente pelas classes A e B, a cremação tem preços que variam de R$ 1,7 mil a cerca de R$ 10 mil.

O aumento da receita esperado para este ano, conforme o vice-presidente do grupo Cortel, deve-se a novas iniciativas: "Intensificamos a realização de eventos com o objetivo de trazer a comunidade para dentro do empreendimento".

Ele destaca a abertura, em julho do ano passado, do Crematório Metropolitano São José, com capelas especialmente decoradas, climatização, circuito interno de TV com monitores para informações sobre horários das cerimônias, câmeras para transmissão de velórios on line pela internet, sistema de sonorização ambiente e cafeteria com vista panorâmica para a cidade de Porto Alegre.

Pelos cálculos de Lourival Panhozzi, presidente da Associação Brasileira de Empresas e Diretores Funerários (Abredif), a prestação de serviços diferenciados já representa 15%, em média, da receita total dos cemitérios.

"O ritmo de implantação dos crematórios ainda é muito lento. O Brasil não tem tradição nessa área", observa Panhozzi.