Título: França compra soja convencional no Paraná
Autor: Cristina Rios
Fonte: Gazeta Mercantil, 31/08/2004, Agribusiness, p. B-12

O governo da Bretanha e de Pays de Loire, no noroeste da França, quer fechar um acordo para ampliar a compra de soja convencional do Paraná. A região é a maior produtora de carne de frango e de suínos do país, responsável por absorver 65% do volume de importações de soja da França, de 5 milhões de toneladas por ano.

A intenção é criar um canal de escoamento de soja convencional entre os portos de Paranaguá, no Paraná, e o terminal graneleiro de Lorient, na Bretanha, informou Pascale Loget, vice-presidente da Bretanha, que assinou ontem em Curitiba uma carta de intenções de compra do grão com o governo do Paraná. Loget iniciou ontem por Curitiba uma visita de três dias ao estado para conhecer o processo de produção, fiscalização e escoamento da soja paranaense.

"Em nossa região sabemos que o transgênico é danoso para nossa economia. Sabemos que nossa agricultura é frágil e perdemos mercado quando padronizamos nossa produção", afirmou.

Com o projeto, o Paraná pode se transformar no principal fornecedor mundial de soja convencional para a região francesa, que responde sozinha por 65% da carne suína, 40% do leite e 50% dos ovos produzidos em toda a França.

O porto de Paranaguá foi escolhido por não permitir, em razão de uma decisão do governador Roberto Requião (PMDB), o escoamento de soja em grão geneticamente modificada. O porto paranaense é, atrás de Santos (SP), o segundo maior terminal exportador do grão, com 4,6 milhões de toneladas movimentadas de janeiro até a última sexta-feira.

Negócios com tradings

Além de importar do Brasil, a França compra soja dos Estados Unidos e da Argentina, países em que a maior parte da produção é de transgênicos. A Bretanha, segundo dados divulgados pela comitiva francesa, já importa soja convencional do Brasil por meio de intermediação de tradings, como Carrefour e Terrena. A primeira opera com produtores de Goiás, que vendem para a região 360 mil toneladas por ano e a segunda repassa soja da Coamo Agroindustrial Cooperativa (300 mil toneladas por ano). "Se firmarmos o acordo, esse volume pode crescer significativamente", disse Pascale, para quem é possível consolidar os novos contratos de fornecimento dentro de um prazo de dois anos.

Segundo René Louail, representante da Confederação Camponesa Européia, composta por 25 organizações de produtores de 15 países europeus, hoje não é possível rastrear toda a cadeia da soja comprada do Brasil porque a França tem acordos de importação com o Rio Grande do Sul, estado em que vários produtores optaram pelo cultivo de soja transgênica.

Com uma posição fortemente contrária aos organismos geneticamente modificados, a França já proibiu seu uso na fabricação de alimentos para o consumo humano. Agora o governo francês quer, da mesma forma, que somente a soja pura seja destinada à ração animal, segundo Ventura Barbeiro, engenheiro agrônomo da campanha de Engenharia Genética do Greenpeace. Segundo Barbeiro, os produtores paranaenses de soja convencional já têm recebido um prêmio de 5% a 7% sobre o preço da soja transgênica.

Incentivo à produção

Para o engenheiro do Greenpeace, dos três maiores exportadores mundiais de soja, o Brasil é o único capaz de atender à demanda do mercado internacional por produtos que não contenham organismos geneticamente modificados.

A maior parte da produção dos outros dois grandes fornecedores, ou seja, Estados Unidos e Argentina, é transgênica. "A sociedade civil organizada dá apoio à política do governo paranaense em manter-se livre de transgênicos e incentiva, também, a produção de soja convencional em outros Estados sem a destruição de nossas florestas. Isso garantiria vantagens comerciais para o Brasil", afirmou.

O consumidor francês é exigente com a questão alimentar, incluindo a cadeia produtiva. Eles acreditam ser possível criar um sistema de rastreabilidade capaz de garantir 100% produtos livres de transgênicos para alimentação animal.