Título: Novo acordo de infra-estrutura
Autor: Gisele Teixeira
Fonte: Gazeta Mercantil, 09/12/2004, Internacional, p. A11

Na criação da Comunidade Sul-Americana de Nações, Brasil e Peru lançam construção de estrada. Em meio à criação, ontem, da Comunidade Sul-Americana de Nações, no Peru, o presidente brasileiro, Luiz Inácio Lula da Silva e o peruano, Alejandro Toledo, assinaram um acordo para o início da construção da estrada Interoceânica, que liga Iñapari, na fronteira com o estado do Acre, e os portos de Ilo e Matarani, no Pacífico. A previsão é de a rodovia ser construída em 2 anos e custar US$ 700 milhões.

Com o acordo, os países tomam uma medida que, espera-se, se repetirá mais vezes na comunidade, que está sendo criada sobre três pilares: comercial, de integração física e político (a idéia é que a região tenha mais união nesse último ponto e possa, num futuro, se tornar algo como a União Européia). Além disso, torna mais próximo o sonho brasileiro de ter saídas para o Pacífico e melhor acesso aos mercados da Ásia.

Os planos da América do Sul para criar um bloco comercial de 12 economias que somam US$ 1 trilhão e 360 milhões de pessoas, exigem que os países invistam em projetos conjuntos para os setores de energia elétrica e de transportes, disse o presidente chileno, Ricardo Lagos. "Não haverá integração até que tenhamos estradas, telecomunicações, portos eficientes e aeroportos modernos", disse.

Allan Wagner, secretário-geral da Comunidade Andina de Nações (CAN), disse que o novo bloco tentará realizar sua integração econômica em um prazo de 15 anos. O Mercosul e países da CAN assinaram recentemente um acordo comercial que levou ao lançamento da comunidade sul-americana.

Segundo Lula, o acordo assinado ontem mostra que a nova comunidade não é um mero exercício de retórica. "É a expressão do empenho de nossos países em superar as distâncias que ainda nos separam". Para ele, o continente, ao se integrar para dentro, também está se integrando com o mundo e se tornando mais competitivo.

O fato dos presidentes da Argentina, Uruguai e Paraguai não terem participado da reunião de cúpula colocou, no entanto, mais dúvidas sobre a viabilidade da nova Comunidade, numa região em que a integração encontra inúmeros obstáculos. O vice-presidente da Argentina, Daniel Scioli, disse que seu governo é favorável à criação da Comunidade. "Mais do que nunca temos que avançar na integração e na complementação produtiva do continente", disse.

O acordo entre Brasil e Peru foi concretizado por meio de financiamento do Proex concedido pelo Brasil, no valor de US$ 417 milhões, com período de carência de 3 anos, com prazo de pagamento de 16 anos e com uma taxa fixa de 3,75%, mais "spread" de 0,5% ao ano. O projeto de rodovia deverá receber também recursos da Corporação Andina de Fomento (CAF).

Apesar de o Brasil possuir uma rodovia pavimentada estendendo-se da costa atlântica até Iñapari, o caminho é em grande parte de terra batida e lama quando passa pela floresta peruana em direção aos Andes e à costa do Pacífico.

Caminhões pesados podem cruzar o rio Acre na fronteira peruana durante a época de seca, e os carros utilizam pontes de madeira improvisadas. Mas durante a época de chuvas, que começa em fins de novembro e dura até seis meses, o rio não pode ser atravessado.

Os ambientalistas temem que uma rodovia pavimentada que atravessa a floresta tropical vai expor a região amazônica aos agricultores e madeireiros, que poderão desmatar a área numa velocidade maior.

O governo do Peru manifestou interesse em executar o trecho da rodovia Tarapoto-Yurimaguas, no eixo viário do Amazonas, com o qual ficará em operação o segundo eixo de conexão interoceânica, que deve dar vigor à aliança estratégica entre os países.

Para Lula, a obra é muito mais do que um projeto bilateral, pois sintetiza a vontade do continente de fazer da geografia a maior aliada para enfrentar uma economia globalizada.