Título: Vendas vão alcançar R$ 63 bilhões em 2005, diz IBS
Autor: Gustavo Viana e Daniele Carvalho
Fonte: Gazeta Mercantil, 09/12/2004, Indústria & Serviço, p. A12

Puxado pelo consumo interno, faturamento atingiu R$ 50 bilhões neste ano. O faturamento da indústria siderúrgica brasileira vai continuar crescendo no ano que vem, mesmo sem um aumento substancial de produção, revela a estimativa divulgada ontem pelo Instituto Brasileiro de Siderurgia (IBS). A siderurgia nacional deverá faturar R$ 63,36 bilhões em 2005, montante 25,6% maior que os R$ 50,43 bilhões previstos para o este ano. A produção de aço bruto deverá crescer 2,1% e somar 33,6 milhões de toneladas em 2005. "O crescimento será apenas vegetativo", disse o o presidente do IBS, José Armando de Figueiredo Campos. Em 2004, a produção subiu 5,7% ante o ano anterior, atingindo 32,9 milhões.

Segundo o executivo, a capacidade de produção do País não crescerá de forma significativa em 2005 e terá somente algumas otimizações, já que os grandes investimentos anunciados recentemente - como os da Aços Villares, Companhia Siderúrgica de Tubarão (CST), Gerdau e Gerdau Açominas - deverão entrar em operação somente a partir de 2006. O setor está investindo US$ 7,4 bilhões (2004 a 2008) para ampliar sua capacidade de produção das atuais 34 milhões para 44 milhões de toneladas anuais.

Esse crescimento da receita da siderurgia brasileira é explicada pelo aumento dos preços internacionais do aço e pelas exportações de produtos de maior valor agregado. Segundo José Armando, o País exporta cada vez mais produtos laminados, galvanizados e inoxidáveis, e menos semi-acabados.

Devido à alta do consumo interno, as exportações recuaram 7,3% em 2004, alcançando 12 milhões de toneladas. Apesar do recuo na tonelagem, o retorno financeiro das operações registrou crescimento,atingindo US$ 5 bilhões. Em 2004, as vendas internas subiram 16,2%, somando 17,9 milhões de toneladas.

Em 2005 o País exportará cerca de 11,6 milhões de toneladas, 3,4% a menos que em 2004. As vendas de aços longos serão exceção - serão comercializadas 2,3 milhões de toneladas, 12,8% a mais do que o previsto para este ano.

Pela entrada em operação de novos laminadores e linhas de revestimentos de aço no País na Companhia Siderúrgica de Tubarão (CST), Galvasud e Vega do Sul, as vendas internas de produtos de maior valor (planos e longos) crescerão 8,3% e 13,9% em 2005, respectivamente, conta um decrésimo de 14,1% nas vendas de semi-acabados.

Campos disse que o IBS estuda meios para ampliar as exportações de laminados. "Exportamos semi-acabados que poderiam ser laminados no Brasil", disse. Para o executivo, os setores que puxarão a demanda em 2005 são a construção civil e bens de capital. O consumo aparente (vendas internas mais as importações diretas) deverá ultrapassar, pela primeira vez, os 20 milhões de toneladas, patamar cerca de 10% superior ao consumo que será verificado em 2004, de 18,39 milhões de toneladas. Segundo o IBS uma parcela expressiva deste consumo foi usada na fabricação de bens intensivos destinados à exportação, que cresceram 35% no período.

O presidente do instituto descartou qualquer desabastecimento de aço em 2005. "O nosso compromisso com o mercado doméstico continua", disse. "O que mais sobra é aço nesse País. O Brasil tem um excesso de 60% de aço em relação à demanda interna. Não existe outro produto industrializado que tenha tanto excesso em relação à demanda interna", disse o presidente do grupo Gerdau, Jorge Gerdau Johannpeter.

Os executivos do setor mostraram-se preocupados com o aumento no preço das matérias-primas (minério de ferro, carvão, sucata e coque) no próximo ano. Segundo Campos, o preço do carvão vegetal e das ferro-ligas deverão aumentar cerca de 100% em comaparação a 2004. Omar Silva Júnior, presidente da Cosipa, disse que aguarda reajustes nos preços do carvão vegetal, do coque e também dos fretes, ocasionados pela falta de navios e pela forte demanda chinesa. "A demanda aquecida e a ausência de novas produções, vão provocar pressões nos preços do minério de ferro", afirmou o presidente do IBS. Para Silva Júnior, o preço das placas de aço deverão se manter no primeiro trimestre de 2005 nos mesmos patamares de hoje, entre US$ 520 e US$ 540 a tonelada. Para ele, as vendas de aços planos deverão crescer cerca de 8% no mercado doméstico em 2005, e deverão somar cerca de 11,51 milhões de toneladas.

No cenário internacional, o IBS prevê que a China continue a crescer e a liderar o crescimento dos preços e do consumo da siderurgia mundial. O instituto também espera uma retomada da demanda por aço do mercado japonês em 2005. Johannpeter, da Gerdau, disse que o grupo continuará focado em produtos longos. "Continuamos com a política de consolidação, que no momento acontece na América do Norte. A longo prazo, o nosso objetivo é ser um grande player importante no continente americano", disse.

A empresa - maior produtora de aços longos do continente americano - está investindo para ampliar em 50% a sua capacidade de produção no País (de 7 milhões para 10,5 milhões de toneladas anuais), daqui a 3 anos. "Esse crescimento será para atender o mercado interno e as exportações", disse Johannpeter. Desses 3,5 milhões adicionais, Johannpeter disse que a empresa deverá exportar 2,5 milhões de toneladas. Atualmente, disse o executivo, a subsidiária Cosigua abastece o mercado de São Paulo. Com a nova usina de Araçariguama (SP), em construção, a Cosigua terá suas exportações ampliadas. A Usiba, que também terá sua produção expandida para cerca de 800 mil toneladas. As exportações vão subir de 200 mil toneladas para 450 mil toneladas.

Já o presidente da Usiminas, Rinaldo Campos Soares, disse ontem que a empresa aprovou em sua última reunião de conselho, em novembro, orçamento de US$ 210 milhões para a construção de uma térmica e de um coqueria na unidade de Ipatinga (MG). De acordo com o executivo, a empresa ainda estuda a construção de um novo alto-forno também em Ipatinga, no valor de US$ 700 milhões. A expansão possibilitaria aumentar a capacidade de produção da siderúrgica dos atuais 4,8 milhões de toneldas/ano para 6,8 milhões de toneladas/ano.

Soares disse ainda, que a queda na cotação do dólar levará o Sistema Usiminas a encerrar o ano de 2004 com amortização de mais US$ 600 milhões de sua dívida. No ano passado, a abatimento foi de aproximadamente US$ 300 milhões.