Título: Setor pode investir até US$ 20 bilhões
Autor: Iolanda Nascimento
Fonte: Gazeta Mercantil, 09/12/2004, Indústria & Serviço, p. A14

Recursos devem ser aplicados nos próximos três anos para ampliar a capacidade de produção. A utilização da capacidade instalada da indústria nacional de alimentos já superou a média de 80%, com o crescimento médio de 4,43% registrado na produção este ano. Este percentual acende um sinal de alerta, principalmente, nos segmentos exportadores, disse o presidente da Associação Brasileira da Indústria da Alimentação (Abia), Edmundo Klotz. Ele avalia que o setor tem de receber investimentos entre US$ 15 bilhões e US$ 20 bilhões, nos próximos três anos, para acompanhar o crescimento da demanda doméstica e das exportações.

Cerca de 95% do valor a ser investido deverá ser aplicado pelas indústrias instaladas no País: o movimento de consolidação já acabou e não há mais empresas brasileiras para serem compradas, segundo Klotz. Entretanto, para colocar os planos de ampliação em prática, as indústrias vão precisar captar recursos. "Construção civil e equipamentos custam caro. É impossível fazer isso com recursos próprios. As empresas precisarão do apoio do Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES)", afirmou Klotz, ressaltando que os juros altos também preocupam o setor. "O dinheiro está custando muito caro", disse.

Aproximadamente 5% do valor a ser aplicado virá de investidores estrangeiros; "boa parte" vem da China. "Os chineses nos olham como futuro celeiro do mundo, e da própria China, e tem feito negócios para consolidar isso, comprando áreas e investindo aqui. Mas tem outras pessoas olhando com carinho esse mercado e até transferindo unidades de produção para o Brasil", afirmou o presidente, sem revelar maiores detalhes.

Cresce receita com exportações

O aquecimento do mercado interno e a crescente demanda internacional por alimentos industrializados brasileiros impulsionaram as vendas do setor neste ano. As empresas, incluindo as de bebidas, devem finalizar 2004 com faturamento de R$ 176,2 bilhões ante os R$ 157,8 bilhões do ano anterior, de acordo com balanço divulgado ontem pela Abia. As vendas reais devem aumentar 3,88%, sendo as exportações responsáveis por 27,5% desse crescimento. "No mercado interno, as vendas reais vão subir 2,81%, o que consideramos uma boa recuperação, já que em 2003 elas ficaram apenas 0,92% maiores e, em 2002, 5,4%, o melhor resultado da década."

As exportações de alimentos industrializados devem subir 31,9% em valor neste ano, atingindo US$ 16,7 bilhões ante os US$ 12,9 bilhões apurados em 2003. Em toneladas, o crescimento será de 15,8% na comparação dos períodos, passando das 35,4 milhões de toneladas no ano passado para as 40,9 milhões de toneladas previstas neste ano. O maior crescimento na receita do que no volume exportado, deve-se principalmente a alta nas vendas de produtos com maior valor agregado. "Estamos ganhando mais por tonelada vendida lá fora."

Com estes números, os alimentos processados deverão representar 61,5% do total das exportações brasileiras de agronegócios, estimadas em US$ 27,1 bilhões em 2004 - US$ 10,4 bilhões com alimentos in natura e produtos agropecuários. Os principais compradores foram a União Européia, com 32,3%, o Oriente Médio, com 13,3%, a Federação Russa, com 8,4%, e os Estados Unidos, com 5,2%.

O aumento das exportações, disse Klotz, deveu-se a intensificação das estratégias para conquistar novos mercados, promovidas pela Abia em parceria com a Agência de Promoção de Exportações (Apex), do governo federal. Juntas, elas investiram nos últimos dois anos R$ 14 milhões para divulgar o produto brasileiro no mercado internacional, com respostas positivas, como a da China, que aumentou de 2,3% para 3,5% a sua participação no total das vendas externas brasileiras.

Produção até 5% maior em 2005

Para 2005, a Abia também prevê resultados positivos: crescimento entre 4,5% e 5% na produção e de até 4% nas vendas reais. As exportações devem crescer 25% em valor e 10% em toneladas. Klotz observou que para alcançar essas metas o setor depende de fatores externos: dólar forte e equilíbrio no preço do petróleo. Além disso, é preciso uma contrapartida do governo na solução dos problemas de infra-estrutura. O investimento em expansão depende de garantias de fornecimento de energia e de melhorias no sistema de escoamento da produção.