Título: Dólar sobe mesmo sem leilões do BC
Autor: Jiane Carvalho
Fonte: Gazeta Mercantil, 09/12/2004, Finanças & Mercados, p. B1
Com expectativa de nova intervenção, bancos compram moeda e pressionam cotação. Sem a presença do Banco Central no mercado, mas ainda pressionado pela expectativa de novos leilões de compra, o câmbio fechou em alta. O dólar comercial chegou a subir 1,16% pela manhã, para fechar o dia vendido a R$ 2,759, uma alta de 0,40%. Segundo operadores de mesas de câmbio, a alta se explica por conta do movimento das tesourarias dos bancos, que estão revendo suas posições.
Os negócios iniciaram o dia sob a expectativa de que o BC desse seqüência nos leilões de compra da moeda, responsáveis por duas altas consecutivas na cotação da moeda. As tesourarias dos bancos abriram os negócios comprando dólares, se antecipando a um possível retorno do BC ao mercado que elevaria novamente a cotação. "A alta do dólar hoje ocorreu por conta do efeito psicológico dos leilões anteriores do BC", diz Mario Battistel, da corretora Novação.
Quando o mercado percebeu que o BC não voltaria a comprar dólares, o movimento das tesourarias esfriou e a cotação recuou um pouco. "Desde que o BC começou a atuar no mercado, os bancos têm procurado ou mudar de posição de vendido para comprado, apostando na alta da moeda", diz Mirian Tavares, da corretora AGK.
Analistas de câmbio consideram imprevisível o comportamento do BC nos próximos dias. Há quem acredite que a instituição só volta ao mercado em caso de queda na cotação e também quem aposta que o BC a qualquer momento retomará os leilões mesmo em um momento de alta. Outro fator que ajudou na valorização da moeda no mercado local foi alta do dólar lá fora, frente ao euro e ao iene. "Em parte, o mercado local seguiu o movimento lá fora, que fechou com valorização do dólar", diz Mirian Tavares.
No mercado de juros futuros, os negócios apontaram alta na Selic, na reunião da semana que vem do Comitê de Política Monetária (Copom). Na Bolsa de Mercadorias e Futuros (BM&F), o contrato de Depósito Interfinanceiro (DI) de janeiro de 2005, que sinaliza a Selic de dezembro, indicou taxa de 17,52% ao ano, ante 17,49% do ajuste da terça. O contrato de abril, o mais liquido com um giro financeiro de R$ 17,1 bilhões, projetou um juro de 17,88%, contra 17,9% da véspera.
Os analistas acreditam em um aumento de 0,5 ponto percentual na Selic, hoje em 17,25% ao ano. O reajuste seria justificado pela inflação de dezembro que deve vir acima da expectativa. Ontem, a Fundação Getúlio Vargas (FGV) divulgou o Índice Geral de Preços do Mercado (IGP-M) que apresentou alta de 0,62% na primeira prévia de dezembro. O resultado ficou acima da estimativa do mercado, que era de 0,40%. Também ontem, o IBGE divulgou que o Índice de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA) - que baliza a meta de inflação do governo - de 0,69% em novembro, ante 0,44% de outubro.
No mercado secundário de títulos públicos, o C-Bond fechou com alta de 0,06%, negociado a 101,44% do seu valor de face. No fechamento do mercado local, o risco-País, medida pelo JP Morgan, caía 2,21%, aos 416 pontos