Título: Superávit agrícola pode ser recorde
Autor: Luciana Otoni
Fonte: Gazeta Mercantil, 06/12/2004, Agribusiness, p. B-12
O superávit da balança comercial do agronegócio deverá atingir neste ano a cifra recorde de US$ 30 bilhões. O saldo resultará da diferença entre exportações de US$ 35 bilhões e importações de US$ 5 bilhões. Se confirmado, o agronegócio se consolidará como o principal sustentáculo da balança comercial brasileira, graças sobretudo à valorização da soja e à expansão dos embarques de carnes.
De janeiro a outubro deste ano, as exportações do agronegócio resultaram em receitas de US$ 33,054 bilhões. Descontada a importação de US$ 4,025 bilhão, a balança do setor acumulou superávit de US$ 29,02 bilhões. O resultado é 35% maior que o apurado em igual período de 2003.
Melhor resultado
Neste ano, as transações comerciais do Brasil no exterior alcançarão resultados recordes em todas as categorias. As exportações proporcionarão receitas recordes de US$ 94 bilhões, seguidas por resultado igualmente recorde para as importações, no montante de US$ 62 bilhões. Com isso, o País contabilizará o maior saldo comercial já alcançado em toda história, no total de US$ 32 bilhões.
A avaliação antecipada das transações no comércio exterior dos produtos agrícolas e pecuários foi feita pelo chefe do Departamento de Comércio Exterior da Confederação da Agricultura e Pecuária do Brasil (CNA), Antônio Donizeti. "Em 2004, o Brasil comprovou o potencial de sua agropecuária, o que pode ser atestado pelos resultados das exportações", diz o economista da entidade.
Líder das vendas no exterior dos produtos da agropecuária, o complexo soja contribuiu para a formação de uma receita cambial de US$ 9,299 bilhões entre janeiro e outubro, com alta de 29,1% em relação aos US$ 7,205 bilhões obtidos em igual período do ano anterior. Em abril, foi registrado ápice de preços da soja, com a tonelada atingindo a cotação de US$ 364 no mercado internacional. A partir do segundo semestre, a cotação começou a cair a partir das informações sobre a supersafra americana, maior concorrente do Brasil. Em outubro, o preço de venda da oleaginosa havia recuado 47,2%, para US$ 192 a tonelada do grão.
"Vaca louca" nos EUA
O caso da doença da "vaca louca" nos Estados Unidos e os problemas climáticos na Austrália impulsionaram as exportações brasileiras de carne - entre bovina, suína e de frango -, que encerraram os primeiros 10 meses do ano com US$ 5,049 bilhões em receitas, 53,6% acima dos US$ 3,287 bilhões negociados em igual período de 2003. Os dados da CNA indicam que a carne bovina apresentou seu melhor desempenho de todos os tempos, acumulando, de forma isolada, receitas de US$ 2,051 bilhões, um acréscimo de 67,7% em relação ao desempenho obtido no ano passado.
O pequeno aumento das importações também é um fator que contribuirá para a formação de um superávit recorde de US$ 30 bilhões na balança comercial do agronegócio. De janeiro a outubro, as compras de produtos agrícolas e pecuários no exterior somaram US$ 4,025 bilhões, com ligeira alta de 1,3%. O destaque foi a redução da dependência das importações de trigo. Com a elevada produção interna, as aquisições de trigo no exterior ficaram limitadas a US$ 639 milhões, o equivalente a 4 milhões de toneladas, inferior, portanto, às US$ 881 milhões (5,8 milhões de toneladas) gastos entre janeiro e outubro do ano passado.