Título: O SNI tinha até jornal em 1968
Autor: Otto Filgueiras
Fonte: Gazeta Mercantil, 13/12/2004, Primeira Página, p. A-1

Delfim diz que se soubesse que o sistema ia se degenerar não assinaria o AI-5. No dia 14 de dezembro de 1968, o Boletim Informativo n 295 do Serviço Nacional de Informações (SNI), então chefiado pelo general Emilio Garrastazu Medici, que viria a ser presidente, noticiava que o Ato Institucional n5 (AI-5), anunciado no dia anterior pelo ministro da Justiça, Gama e Silva, "entrou em vigor ontem mesmo e como conseqüência ficou decretado o recesso do Congresso Nacional". O "jornal" do regime acrescentava que "o governo fica com poderes para decretar intervenção nos estados e municípios, suspender direitos políticos pelo prazo de dez anos, e cassar mandatos eletivos".

Ministro da Fazenda na época, o deputado Delfim Netto (PP-SP) estava na reunião, apoiou-o e foi um dos signatários do AI-5. Na época, ele disse que a medida não era "suficiente" e propôs dar ao presidente Costa e Silva "a possibilidade de realizar certas mudanças constitucionais, que são absolutamente necessárias para que este País possa realizar o seu desenvolvimento com muita rapidez".

Hoje, 36 anos depois, Delfim Netto diz não ter "nenhum arrependimento sobre o AI-5 e se as condições fossem as mesmas eu assinaria de novo, e só não assinaria se conhecesse o futuro, se soubesse que aquilo ia se degenerar como se degenerou num processo extremamente desagradável de torturas". Segundo ele, "existia dentro do governo duas correntes fortíssimas: uma queria o sistema muito mais duro, era a `linha dura¿, a qual o presidente Costa e Silva se opôs, tanto que depois do AI-5 ele a liquidou". Ele diz que revoltas estudantis e greves operárias contra o regime foram "a origem menor para o AI-5, que serviu para defenestrar a linha dura e também para defenestrar essa oposição externa que existia".

Crítico dos juros altos praticados hoje pelo Banco Central (BC), ele avisa que "a brincadeira com o câmbio valorizado terá custo enorme, está ajudando a combater a inflação no curto prazo, mas vai voltar como uma vingança".