Título: O dinheiro dos emigrantes
Autor:
Fonte: Gazeta Mercantil, 10/12/2004, Opinião, p. A3

A economia ainda não encoraja brasileiros a retornar ao País. Um dos sintomas mais claros da estagnação econômica interna desde a década de 80 foi a transformação do Brasil de país receptor de imigrantes em país fornecedor de emigrantes. Pelos dados do Censo 2000 do IBGE, 1,5 milhão de brasileiros vivem e trabalham no exterior. O número deve ser hoje bem maior. O fenômeno tem reflexos nítidos sobre as contas externas, expressos na conta de transferências unilaterais, que em 2004 apresenta o maior saldo positivo dos últimos dez anos. De acordo com o Banco Central (BC), os emigrantes brasileiros remeteram para o Brasil US$ 2,901 bilhões de janeiro a outubro deste ano, cifra só inferior à do mesmo período de 1995 (US$ 3,287 bilhões). Descontada as transferências feitas daqui para fora, no valor de US$ 239 bilhões, fica um líquido de US$ 2,662 bilhões. Prevê-se que o volume de remessas de emigrantes feche o ano em US$ 3,5 bilhões. Isso, é claro, no mercado formal. O Banco Interamericano de Desenvolvimento (BID) calcula que o total dessas remessas seja superior a US$ 5 bilhões no caso do Brasil. Os operadores do mercado de câmbio estimam que 60% desse dinheiro venha do Japão. A economia japonesa está crescendo pouco, é verdade, mas, mesmo assim, os nisseis continuam a procurar trabalho na terra de seus ancestrais. E não poderia haver momento melhor para converter os ienes ganhos à custa de muito suor em dólar, que está desvalorizado em relação à moeda japonesa. O Banco do Brasil sempre explorou esse filão e, recentemente, se associou ao Sumitomo Mitsui. O Bradesco fez o mesmo com o UFJ, que está se fundindo com o Mitsubishi, e o Itaú abriu agência no Japão. Mas tem vindo também muito dinheiro de gente nossa que ganha a vida nos Estados Unidos e na Europa. Esses trabalhadores estão ajudando o balanço de pagamentos do País e contribuindo para o aumento dos negócios aqui, onde a grana é gasta ou investida. Mas, além da saudade de amigos ou de pessoas da família que foram tentar a sorte lá fora, esses números deixam outro tipo de tristeza. Muitos brasileiros que estão no exterior dizem que querem voltar e podem estar sendo sinceros, mas, enquanto não houver uma retomada da economia pelo espaço de alguns anos, dando empregos e esperanças, vão adiando o retorno. kicker: Prevê-se que o volume de remessas de emigrantes feche o ano em US$ 3,5 bilhões