Título: Fábrica de iPad no Brasil
Autor: Rothenburg, Denise
Fonte: Correio Braziliense, 13/04/2011, Política, p. 2/3

Denise Rothenburg Com Tiago Pariz Enviada especial

Pequim e Brasília ¿ A presidente Dilma Rousseff recebeu a promessa da empresa Foxconn, de Taiwan, de investir US$ 12 bilhões na construção de uma fábrica para a montagem nacional do iPad, da Apple. E conseguiu do governo da China o compromisso de as empresas locais buscarem produtos de maior valor agregado no mercado brasileiro. Em contrapartida, no entanto, reforçou a promessa de acelerar o reconhecimento do gigante asiático como economia de mercado.

Dilma recebeu o presidente da Foxconn, Terry Gou, e ouviu dele o plano para os próximos cinco anos. O investimento, segundo informou o Itamaraty, é para a produção de telas e visores para computadores, celulares e tablets e deve gerar cerca de 100 mil empregos. O plano anunciado supera o de projetos da Petrobras para suas operações internacionais. A maior empresa brasileira prevê investir US$ 11,7 bilhões até 2014, mas não é a maior aplicação estrangeira no país. O grupo britânico BG disse que pretende aplicar nesta década US$ 30 bilhões.

A Foxconn atua em parceria com empresas tecnológicas para montagem de seus produtos. A nova fábrica será montada em aliança com a Apple. A empresa tem instalações em Manaus, Indaiatuba (SP) e Jundiaí (SP). No Brasil, ela monta produtos eletrônicos da Sony, Dell, HP e Sony Ericsson. No mundo, ela é responsável também por agregar as peças de videogames como o PS3, da Sony, e o Wii, da Nintendo.

O ministro de Ciência e Tecnologia, Aloizio Mercadante, informou que a montagem dos tablets deve começar até novembro, nas atuais instalações da Foxconn. A nova fábrica ainda não tem local de instalação definido. A avaliação do mercado, no entanto, é que fabricação do iPad no Brasil não significa preços menores. ¿Tem que ser detalhado agora as condições de produção, onde que vai ser a logística¿, disse Mercadante. No ano passado, a Foxconn se envolveu em uma polêmica mundial por conta de uma série de funcionários que se suicidaram. Na época, o jornal The New York Times relatou que um deles trabalhava 11 horas por dia, inclusive durante a madrugada, sete dias por semana, com um salário equivalente a US$ 1 dólar por hora.

Obrigação Na visita, a presidente Dilma também precisou incluir na declaração conjunta o compromisso do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva de tratar de forma expedita a questão do reconhecimento da China como ¿economia de mercado¿.

O Brasil não pretendia tratar de forma tão direta desse reconhecimento, pelo menos nesse comunicado. Mas, diante da assertiva dos chineses, que, em maio, vão enviar uma ¿missão de compra¿ para avaliar perspectivas de negócios ¿ será inclusive chefiada pelo ministro do Comércio, Chen Deming ¿, o governo brasileiro não conseguiu escapar do compromisso.

¿Essa definição da missão é algo para comemorar no dia de hoje. Temos clareza que queremos um superavit de outra qualidade não baseado não só nos produtos de commodities. Na questão da cooperação e investimentos a parceria entre brasileiros e chinesas, temos que ter um princípio da reciprocidade, o que valer para o Brasil, vale para a China e vice-versa¿, afirmou Dilma, ao mencionar que Hu Jintao se mostrou muito receptivo com relação a esse assunto.

No que se refere às exportações brasileiras para a China, a presidente ressaltou dois pontos. O maior negócio fechado na visita de Dilma foi a venda de 35 aviões modelo EMB 190 da Embraer, no valor de US$ 1,4 bilhão, considerando o preço estimado de US$ 40 milhões por aeronave. Além disso, a empresa fechou acordo para a produção do Legacy em território chinês, o que vem apenas compensar o abandono do projeto de fabricação do modelo EMB 145, que era produzido no gigante asiático.

O segundo ponto que a presidente comemorou foi a concessão de licença para a entrada de carne suína brasileira no mercado chinês. O Brasil buscava há tempos a autorização e acha que o resultado, embora positivo, deixa a desejar porque apenas três empresas foram autorizadas a ingressar com seus produtos. ¿Seriam 13, depois, foram 10 e fecharam em três. Ou seja, não era o que esperávamos¿, afirmou o presidente da Confederação Nacional da Indústria (CNI), Robson Andrade.

Andrade considera difícil o Brasil exportar produtos de valor agregado porque o interesse dos chineses é mesmo em commodities e, para completar, as dificuldades internas do Brasil ¿ infraestrutura, câmbio valorizado, por exemplo ¿- agravam essa distancia. ¿O governo brasileiro colocou bem, mas precisamos ver o que acontece. Ainda temos muitos desafios internos e externos¿, afirmou o presidente da CNI, ainda meio cético em relação a essas iniciativas.