Título: Importação está aquém do nível de 97
Autor: Sandra Nascimento
Fonte: Gazeta Mercantil, 10/12/2004, Nacional, p. A4
Para um PIB de 4% em 2005, estimativa é que o quantum das compras externas cresça 20%. A retomada do crescimento e a valorização do real ao longo de 2004 devem levar as importações deste ano a um valor recorde, entre US$ 62 bilhões e US$ 63 bilhões. Até novembro, segundo boletim divulgado ontem pela Fundação Centro de Estudos de Comércio Exterior (Funcex), as compras externas já acumulavam US$ 61,1 bilhões.
Na avaliação dos economistas da Funcex, o que faz a diferença é o retorno da taxa de câmbio a níveis não-proibitivos, em torno de R$ 3,00/US$. Segundo o boletim de novembro, divulgado ontem, com o atual nível das cotações, o que se vê é uma recuperação generalizada das importações, inclusive em bens de consumo.
O estudo destaca que "não se pode atribuir o forte crescimento das importações neste ano, em especial nos últimos meses, à queda recente das cotações do dólar". Uma vez que o nível da taxa esteja dentro de um intervalo considerado não-proibitivo ¿ entre US$ 2,70 e US$ 3,10 ¿ "a força que prevalece para comandar a trajetória das importações é o comportamento da demanda doméstica".
No período 2000-2001 as importações caminhavam para recuperar o espaço perdido anteriormente em relação ao PIB, mas o choque cambial do segundo semestre de 2001 abortou esse processo. Atualmente elas descrevem novamente uma trajetória de recuperação, mas ainda há um grande espaço a ser percorrido, visto que elas ainda teriam que crescer cerca de 17% para recuperar a mesma participação no PIB (em termos reais) que tinham 1997.
Considerando-se um crescimento do PIB de cerca 4% em 2005, deveria haver um crescimento do quantum (quantidade física em oposição a seu valor) de importações de pelo menos 20% para que isto acontecesse até o final do próximo ano, o que é bem provável, avaliam os economistas da Funcex, na ausência de novos choques cambiais.
Ao analisar os produtos importados pelo país na média dos últimos 24 meses (até outubro de 2004) em comparação com os que eram importados na média dos anos de 1997 e 1998, a Funcex revela que houve, de fato, uma mudança significativa na composição da pauta em termos dos principais produtos importados.
Observa-se que entre os 10 produtos mais importantes na pauta em 1997-1998 apenas cinco continuavam entre os 10 principais nos últimos 24 meses, com destaque para petróleo, que voltou a ser o item mais importante, com 9,4% do total, e partes e peças para automóveis e tratores. Entre aqueles que passaram a fazer parte da lista dos 50 mais importantes, destacam-se gás natural, minérios de cobre, coque, hulha e dispositivos de cristal líquido. A queda total do valor importado entre estes mesmos dois períodos, de US$ 5,5 bilhões, dividiu-se entre 148 produtos registraram aumento de valor (com um total de US$ 10,2 bilhões) e 229 que tiveram queda (total de US$ 15,7 bilhões).
Entre os primeiros, houve grande concentração em um grupo pequeno de produtos, tal que apenas sete responderam por metade do ganho total: petróleo, circuitos integrados, medicamentos, gás natural, motores e turbinas para aviões, cloreto de potássio e inseticidas. Já entre os produtos que tiveram queda, esta foi mais dispersa: os sete principais responderam por pouco mais de um terço do total, com destaque para automóveis, veículos de carga, algodão, aviões e celulares.
A Funcex destaca que os resultados de novembro reforçam duas idéias: de que não há ainda uma desaceleração das exportações e de que as importações estão se acelerando. Com isso, o superávit em novembro ficou em US$ 2,08 bilhões em novembro, levando o saldo acumulado do ano para US$ 30,2 bilhões e em 12 meses para US$ 33 bilhões. Estes últimos números vêm ratificando as projeções de exportações entre US$ 95 bilhões e US$ 96 bilhões e de importações entre US$ 62 bilhões e US$ 63 bilhões, levando a um saldo comercial em torno de US$ 33 bilhões.
A queda da cotação do dólar em outubro, de 1,3% em relação a setembro, levou a taxa de câmbio a seu nível nominal mais baixo desde junho de 2002: R$ 2,85/US$. Com isso, houve uma valorização da taxa de câmbio real no mês de 1,17% em relação à cesta de moedas de 13 países, quando se considera o IPA como deflator.
Aliás, pelo segundo mês consecutivo, este índice de câmbio real ficou abaixo do registrado em dezembro de 1998, período imediatamente anterior à flutuação do real. De fato, o câmbio nominal desde então registrou desvalorização nominal de 136,7%, a qual foi mais do que compensada pela diferença entre a inflação doméstica dos preços no atacado (162,8%) e a inflação externa (30,9%).