Título: Brasil e Argentina precisam de uma agenda comum, diz Skaf
Autor: Fernando Exman
Fonte: Gazeta Mercantil, 10/12/2004, Nacional, p. A4

O presidente da Federação das Indústrias do Estado de São Paulo (Fiesp), Paulo Skaf, afirmou ontem que apoia a decisão do governo Luiz Inácio Lula da Silva de negar o pedido argentino de adotar salvaguardas para proteger determinados setores industriais mais frágeis. Segundo Skaf, o pedido é desnecessário porque a Argentina já demonstra fortes sinais de recuperação.

Para o líder do empresariado paulista, Brasil e Argentina deveriam concentrar-se no fortalecimento de uma agenda comum com o foco em outros mercados. "Não há necessidade de perdermos tempo com discussões de restrições entre os dois países", comentou.

Outra demanda do governo argentino, que também deverá ser recusada pelo Brasil é a criação de uma política conjunta para a atração de investimentos estrangeiros. A respeito da recusa, Skaf observou que "a postura do governo mostra transparência e clareza ao negar algo que na prática não ocorrerá efetivamente".

O presidente da Fiesp rebateu as críticas feitas por empresários argentinos de que as indústrias brasileiras recebem incentivos do governo federal. Para Skaf, não se pode afirmar isso porque, na realidade, a indústria brasileira é penalizada pelo alto spread bancário ¿ que resulta da diferença entre a taxa de aplicação nas operações de financiamento e a taxa de captação de recursos pelas instituições financeiras ¿, pela pesada carga tributária e pela dificuldade de obter financiamento.

Em entrevista coletiva a correspondentes de veículos de comunicação estrangeiros, Skaf voltou a criticar a decisão do governo Luiz Inácio Lula da Silva de reconhecer a China como economia de mercado. A decisão foi anunciada no mês passado, quando o presidente chinês, Hu Jintao, realizou uma visita oficial ao Brasil.

Na avaliação de Skaf, tal decisão reduz a capacidade do País em aplicar mecanismos de defesa comercial e não beneficiará o País, pois "o Brasil tem o mesmo interesse da China em agregar valor aos produtos exportados. A propósito, lembrou a posição dos Estados Unidos e da União Européia (UE), que consideram a China uma economia planejada e, por isso, ainda não reconheceram o país como uma economia de mercado.

Crescimento em 2005

Segundo o líder empresarial, a Fiesp trabalha com dois cenários para o ano que vem. O mais otimista, no qual o Produto Interno Bruto (PIB) registra crescimento de mais de 4%, a indústria nacional avança mais de 5,2% e a relação entre investimento e PIB supera os 22%. Mas para isso, disse Skaf, seria preciso reduzir o gasto público, a taxa básica de juros, a Selic, hoje em 17,25% ao ano, e a valorização do real em relação ao dólar.

Na hipótese de o governo federal manter a política de juros altos, de câmbio valorizado e de aumento dos gastos públicos, as projeções da Fiesp são mais modestas. O PIB se elevaria em até 3%, o setor industrial cresceria abaixo de 4%, enquanto a relação investimento/PIB seria inferior a 20%.

"Não acreditamos em crescimento sustentável com carga tributária e juros crescentes", disse Skaf, que defende o patamar de R$ 3,00 para a taxa de câmbio.