Título: Convenção decidirá futuro do PMDB
Autor: Sérgio Pardellas e Sérgio Prado
Fonte: Gazeta Mercantil, 10/12/2004, Política, p. A7

Após frustradas tentativas, encontro nacional foi confirmado e evidência um forte racha. Depois de frustradas as tentativas de adiar a convenção nacional do PMDB, marcada para este final de semana em Brasília, os membros da ala governista do partido e o Palácio do Planalto trabalham agora para que ala defensora do rompimento com o governo não consiga quórum para aprovar a saída da legenda da base que dá sustentação ao governo do presidente Luiz Inácio Lula da Silva no Congresso.

Ontem, a pressão sobre os diretórios de Santa Catarina e Distrito Federal parece ter dado resultado. Segundo um peemedebista, que pediu anonimato, ao ter se encontrado com o presidente do Senado, José Sarney (AP), o governador do Distrito Federal Joaquim Roriz teria se comprometido a lutar pelo esvaziamento da convenção nacional da legenda.

Traição

Na quarta-feira, durante a reunião da Executiva do partido, o deputado Tadeu Filippelli (DF), afilhado político de Roriz, votou contra os governistas. Também da Executiva, o ex-deputado Renato Vianna (SC), ligado ao governador de Santa Catarina, Luiz Henrique, também contribuiu para o triunfo dos "independentes". Ontem, porém, o governador catarinense, se justificou da vitória dos independentes em telefonema ao senador José Sarney. "Fui traído", teria dito Luiz Henrique, garantindo se empenhar para reverter o placar na convenção, segundo relato de um assessor do PMDB.

Ontem, o Planalto também tentou convencer o prefeito Íris Rezende (GO) a retirar da convenção nacional os peemedebistas sobre os quais exerce influência. As conversas devem prosseguir hoje.

"Pelo menos 15 dos 27 diretórios não vão mandar representantes", disse ontem otimista o senador Ney Suassuna (PB).

Contestação

Os números, no entanto, são contestados pelos oposicionistas. O quórum mínimo é de 260 convencionais. Hoje, os que defendem a entrega dos cargos federais contabilizam pelo menos 300 votos. Mas temem os efeitos da investida do governo até domingo, data da convenção. Trabalha para inflar o encontro, do lado dos independentes, o deputado Eliseu Padilha (RS). Ontem, ele telefonou para os diretórios da Bahia, Piauí, Ceará, Roraima e Rio Grande do Norte, locais onde prevaleceria a tese pela permanência do PMDB na base aliada. Pelo estatuto do partido, 519 convencionais, entre senadores, deputados e delegados estaduais, estão aptos a participar, num total de 708 votos.

Alguns, pelo cargo que ocupam, têm direito a mais de um voto. Minas Gerais, por exemplo, é o estado com mais votos, 62. Em seguida, vêm o estado de São Paulo e Paraná, com 55, e Rio de Janeiro e Rio Grande do Sul, com 54. Em número de convencionais, Minas também lidera, com 51. O Paraná tem 45 e São Paulo, 42. Qualquer que seja o resultado da convenção, no entanto, o senador Ney Suassuna (PMDB-PB) aposta que o PMDB ficará exatamente como está. Vice-líder do governo no Senado, ele reafirma que o partido não deixará os cargos no governo e continuará na base de sustentação de Luiz Inácio Lula da Silva no Congresso.

"O máximo que vai acontecer é um desconforto a mais ao deputado Michel Temer (presidente do partido). Na semana que vem, ele verá 20 votos de senadores e 45 de deputados em favor do governo nos plenários da Câmara e

do Senado", disse Suassuna. O parlamentar lembrou ainda que a divisão interna do PMDB é recorrente. Citou 2002 quando a legenda decidiu-se em convenção entrar na chapa do ex-ministro da Saúde José Serra (PSDB), que foi batido por Lula na corrida presidencial. Na época, nomes como os governadores Roberto Requião (PR) e Luiz Henrique (SC), além do ex-senador Orestes Quércia, abandonaram Serra e Rita Camata (PSDB), e apoiaram Lula e José Alencar para o Palácio do Planalto. "O curioso é que agora são os mesmos que defendem o rompimento com o governo", alfinetou Suassuna.

Declaração

Ontem, o secretário-geral do PMDB, deputado Saraiva Felipe (MG), disse que a decisão da Executiva Nacional do partido de aprovar a entrega dos cargos federais ao governo serviu como um alerta ao Palácio do Planalto. Segundo ele, o presidente Luiz Inácio Lula da Silva precisa sentar à mesa com o presidente do PMDB, deputado Michel Temer (SP), para fazer o que defendeu quando assumiu o governo: conversar institucionalmente com o partido.

O deputado reclama que Lula ignora a direção nacional do partido, optando por escolher outros interlocutores na legenda. "O PMDB chegou ao governo por adesão e não para discutir um projeto para o País, o que seria a verdadeira coalizão", disse o deputado, ao avaliar que o resultado da Executiva foi um recado.

"Um pequeno grupo se apropriou como porta-voz do governo dentro do PMDB", afirmou Saraiva Felipe que, na quarta-feira, esteve com o ministro da Coordenação Política, Aldo Rebelo, e na quinta-feira, com o ministro-chefe da Casa Civil, José Dirceu. Ele disse ter advertido a ambos que o governo atua de modo errado com o PMDB. "Ou vocês ampliam o diálogo e incluem a direção do PMDB e os governadores nas conversas ou terão problemas", avisou aos ministros, segundo relato do deputado.

Felipe garantiu que os defensores da permanência do partido na base não conseguirão esvaziar a convenção nacional.