Título: Incertezas externas vão pesar mais em 2005
Autor: Caio Cigana
Fonte: Gazeta Mercantil, 10/12/2004, Finanças & Mercados, p. B3

As incertezas que poderão vir a afetar a economia brasileira ano que vem são mais externas do que internas, concluíram ontem painelistas reunidos no seminário O Brasil em 2005: Economia e Investimentos Financeiros, promovido em Porto Alegre pelo Banco do Estado do Rio Grande do Sul (Banrisul). Neste cenário traçado a partir de fatores como a possível elevação dos juros nos EUA e conseqüente desaquecimento na econo-mia, aliado também à desaceleração na China, os participantes do encontro apontaram, com uma pitada de cautela, as melhores opções de investimento para 2005. "Creio que em 2005 o risco maior vem de fora e se isso ocorrer vai ser um forte gatilho de volatilidade. Por isso a estratégia é flexibilidade da carteira de fundos.

A idéia de flexibilizar para enfrentar essa possível volatividade é porque se minimizam os riscos", disse o diretor da área econômica do Banco WestLB, João Nicolas Tingas, creditando este cenário a fatores como possíveis depreciações bruscas do dólar frente ao euro. Ele cita a Bolsa como uma das prováveis boas apostas para 2005.

O administrador de Renda Fixa do Citibank, Roberto Cintra, também recomenda uma carteira de investimentos diversificada. Para Cintra, fundos são uma "forma inteligente" de se investir por permitirem, através de um único instrumento, diversificação das aplicações em títulos variados e de diferentes emissores.

O diretor de Investimento do BNP Paribas, Gilberto Kfouri, vê três boas opções para o ano que está por vir: fundos atrelados a índices de preços, fundos multimercados e fundos de ações.

O gerente de parcerias do Banco Pactual, Ronaldo Boruchovitch, é outro a vislumbrar a Bolsa como uma das melhores escolhas. "O mercado de ações brasileiro é atrativo em comparação com seus pares emergentes. E existem alguns setores com potencial de valorização interessante", avalia Boruchovitch, citando, entre eles, o petroquímico.

Os prognósticos para a economia brasileira em 2005 também são semelhantes, partindo do consenso de que este ano a elevação do PIB vai chegar a 5%. Para Luciano Coutinho, sócio-diretor da LCA Consultores, o PIB brasileiro em 2005 vai crescer 4% e a produção industrial evolui 4,6% (contra 8,2% este ano). As exportações crescerão de US$ 95,2 para US$ 103,2 bilhões, as importações crescem de US$ 63,2 para US$ 75,3 bilhões e o saldo cai de US$ 32 bilhões para US$ 27,9 bilhões. As reservas líquidas do Brasil, acredita, passam de US$ 23 para US$ 25,7 bilhões.

Além da meta

A inflação vai ficar "um pouco abaixo de 6%", além da meta do Banco Central (5,1%), o dólar chega ao final do ano cotado próximo de R$ 3 e a taxa Selic, que ainda sobe um pouco e volta a cair antes do final do primeiro semestre, encerra o ano em 16%.

O economista-chefe da Federação Brasileira de Bancos (Febraban), Roberto Luis Troster, crê em avanço de 3,5% do PIB e juros de 15% ao final do ano. Ele critica, no entanto, o discurso do governo do que este percentual de aumento do PIB previsto para o ano que vem seria bom. "É miopia achar que crescimento de 3,5% ao ano é crescimento sustentado", diz ele, defensor da tese de que o País tem capacidade para números melhores.