Título: Micro e pequenas paulistas ainda fazem filantropia
Autor: Lourdes Rodrigues
Fonte: Gazeta Mercantil, 10/12/2004, Gazeta do Brasil, p. B13
Pesquisa inédita mostra que empresários já vêem na atitude uma maneira de valorizar sua imagem junto aos consumidores. Para a maior parte dos micro e pequenos empresários do Estado de São Paulo (74%), a questão da responsabilidade social ainda se resume apenas a ações de filantropia. Os outros 26% alegam falta de recursos ou o fato de nunca terem ouvido falar do assunto. Estes são alguns dos dados obtidos em pesquisa realizada pelo Sebrae-SP sobre Responsabilidade Social nas Micro e Pequenas Empresas Paulistas - a primeira desse tipo feita pelo órgão.
O objetivo foi identificar qual a proporção de empresas do segmento que realiza ações sociais e, além disso, apresentar propostas que permitam aperfeiçoar os resultados dessas ações. A coordenação do trabalho foi do gerente do Departamento de Pesquisa do Sebrae-SP, Marco Aurélio Bedê.
Motivação dos empresários
Segundo o gerente de pesquisa, o estudo mostrou que a maioria das micro e pequenas empresas paulistas estão preocupadas com a sociedade e, por isso, realizam ações espontâneas de responsabilidade social motivadas, principalmente, pelo desejo de colaborar (78%). Mais da metade daqueles que praticam essas ações o faz depois de ser solicitado diretamente por entidades, e os principais beneficiários são instituições de caridade e comunidades, vizinhas ou não.
Outros 7% dos entrevistados o fazem para melhorar a imagem da empresa; 3% são motivados por campanhas publicitárias e apenas 2% por sugestão dos empregados; já 8% dos empresários alegaram outros motivos para suas ações.
O projeto começou em julho deste ano, quando entre os dias 5 e 16 foram realizadas entrevistas em 425 micro e pequenas empresas. Elas representam um 1, 3 milhão de empresas desse porte existentes em todo o Estado de São Paulo.
Pesquisa por amostragem
A amostragem identificou que 74% dessas empresas, ou seja, 960 mil, realizaram algum tipo de ação social nos últimos doze meses. Segundo o estudo, entre os 26% que não praticaram ações desse tipo, a maioria alegou falta de recursos ou admitiram o fato de nunca terem pensado neste assunto.
Nas relações com os empregados, metade das empresas pesquisadas afirmaram ter realizado ações espontâneas, além das obrigações legais, em relação a seus funcionários. Na maioria, são ações referentes à alimentação, segurança no trabalho e saúde dos trabalhadores e de seus familiares.
A pesquisa detectou ainda quais os valores considerados importantes pelos donos das micro e pequenas empresas em relação às ações de responsabilidade social. A maioria deles (79%) aposta no relacionamento com os clientes como o mais importante. E, para isso essas práticas são eficazes, pois têm efeito direto sobre a imagem da empresa.
Sebrae orienta
Como se mostrou, o perfil dessas práticas de responsabilidade social entre as micro e pequenas empresas ainda é de filantropia. Até pouco tempo, essas ações tinham forte caráter assistencialista, com destaque para doações. Mais recentemente, elas têm se transformado, adotando um caráter de desenvolvimento social, com foco em resultados e envolvendo cada vez mais colaboradores.
Durante a apresentação da pesquisa, segundo Marco Aurélio Bedê, muitos empresários procuraram informações sobre como praticar ações sociais junto aos técnicos do Sebrae-SP. No caso de empresas nos ramos de alimentação e construção, por exemplo, a doação de mercadorias já é um grande feito. Para Bedê, a falta de recursos pode ser driblada por meio do trabalho voluntário ou participação em ações comunitárias. Outra importante recomendação do Sebrae é o acompanhamento de forma sistemática dos resultados para melhorar a eficácia do gasto e a construção da imagem da empresa. Bedê acrescenta que o "tema vem crescendo entre os empresários como fator de competitividade nos negócios".
Lucrando com o social
A prática de ações sociais pode se reverter em mais lucro para as empresas, pois um negócio com boa imagem no mercado aumenta a competitividade, a clientela e, por conseqüência, o faturamento.
A pesquisa mostrou que é preciso um equilíbrio entre os itens que são importantes para os empresários no desenvolvimento de seu negócio. Para 79% dos pesquisados, o mais importante é ter o respeito do cliente; para 35%, o respeito aos fornecedores; 25%, com os concorrentes e 8% acreditam em estímulo a ações coletivas. Para obter esse equilíbrio, Marco Aurélio Bedê cita como exemplo um grande supermercado, que vai querer de seus fornecedores ações sociais. A empresa que tem responsabilidade social e divulga seus feitos tem vantagem em relação aos concorrentes que não agem da mesma forma.
Para o consultor do Sebrae-SP, Júlio Alencar, a primeira pergunta que deve ser feita pelos empresários é: "quanto vale a imagem de minha empresa hoje no mercado?". A partir daí, deve pensar em como operacionalizar a forma de gestão que incorpora o conceito de empresa cidadã. "Isso requer tanto trabalho interno como externo, pois responsabilidade social também se aplica aos funcionários, meio ambiente ( destino e aproveitamento de resíduos) entre outros. Para o consultor, o "investimento em responsabilidade social é fator de sobrevivência. Tem retorno certo que é a valorização da imagem.
kicker: Sebrae tem orientações para empresários dispostos a colaborar
kicker2: Trabalho voluntário substitui falta de recursos de pequenas empresas