Título: Dúvidas sobre a sustentabilidade
Autor: Sandra Nascimento
Fonte: Gazeta Mercantil, 14/12/2004, Nacional, p. A-5

Para o ex-ministro João Paulo dos Reis Velloso, o Brasil precisa resolver um grande enigma: depois dos resultados positivos deste ano, vai mesmo haver crescimento sustentável, de 4% a 5% ao ano, daqui para frente?

Para Velloso, a resposta passa pelo consolidação das condições fundamentais de crescimento de curto, médio e longo prazos; pela modernização de infra-estrutura e logística; pela necessidade de se recuperar os níveis de investimento público, hoje em 2%, e pela implantação de uma política de competitividade. Na avaliação de Velloso, a falta de investimentos resulta em menos recursos para geração de emprego e renda, fundamentais para garantir o crescimento via demanda interna.

A questão da renda também foi um dos temas principais levantado pelo presidente da SR Rating, Paulo Rabello de Castro, ambos presentes ao seminário Cenários 2005, Perspectivas e Tendências, realizado ontem no Rio. "Se não mudar essa questão da distribuição de renda, e não basta só aumentar o mínimo, teremos grande dificuldade de crescimento", disse Castro. "O caminho para o investimento sustentado e chegar a investment grade é só um: é preciso que o brasileiro tenha o seu trabalho valorizado, o que será revertindo no aumento da renda".

Quanto à competitividade, Reis Velloso detaca a necessidade de o Brasil buscar impor-se no mundo com produtos de maior valor tecnológico, para ter condições de fazer frente a países emergentes como China, Rússia, Índia e México. "Hoje o Brasil não tem como competir com a China em tecnologia de consumo", disse, referindo-se, como exemplo, a compra da unidade de PCs da IBM pela chinesa Lenovo. Por cinco anos, no mínimo, a empresa asiática venderá ao mundo produtos com a marca da gigante norte-americana. "Vamos ter de dar uma resposta por cima. Também temos que exportar produtos de mair valor tecnológico."

Entre as demais ações que Castro defende para garantir o crescimento sustentável, depois da recuperação da renda e de sua redistribuição pelo trabalho, estão: a mitigação do risco financeiro, o estímulo à poupança de longo prazo e à produtividade. Ele também destaca ser necessário ao país criar condições de responder positivamente às turbulências externas. "Ainda somos a pulga do rabo do cachorro, ainda somos vulneráveis", disse. "Nada ainda mudou radicalmente, para valer"

Para Castro, 2005 será também um ano divisor de águas: "O Brasil terá de escolher entre uma taxa de câmbio muito competitiva ou a um real forte".

Castro também coloca em dúvida o sucesso da fórmula do atual governo na busca pelo crescimento sustentável. "Querem fazer o país crescer com uma carga extremamente elevada com viés assistencialista. ´"E um modelo que só existe no Brasil", um país que além do mais não está livre de novo apagão". concluiu.