Título: Lula acena com mais um ministério ao PMDB governista
Autor: Paulo de Tarso Lyra
Fonte: Gazeta Mercantil, 14/12/2004, Política, p. A-8

Um dia depois da convenção do PMDB decidir pelo rompimento com o governo, os peemedebistas aliados do Palácio do Planalto se encontraram ontem com Luiz Inácio Lula da Silva. O convite foi feito pelo próprio chefe do Executivo, que desejava a reunião desde a semana passada.

Segundo assessores do Planalto, o presidente confia no grupo e tem total interesse na continuidade das negociações com esta parte do PMDB e ampliar a presença do partido no alto escalão do governo. "O governo tentou negociar institucionalmente com o PMDB, mas não foi possível. Precisa recompor sua base parlamentar, sem abrir mão do apoio dos aliados no Congresso", confirmou um assessor do Planalto.

Mesmo com a manutenção do canal de diálogo, o projeto de dar mais um Ministério para o PMDB deve ser retomado em um futuro não tão distante. Participaram do encontro de ontem o líder do PMDB no Senado, Renan Calheiros (AL), na Câmara, José Borba (PR), o presidente do Senado, José Sarney (AP) e os ministros das Comunicações, Eunício Oliveira e da Previdência, Amir Lando.

Pendência na Justiça

Os governistas também prometem recorrer ao Superior Tribunal de Justiça (STJ) da decisão da convenção, alegando que o mandado de segurança obtido pelo presidente do PMDB, deputado Michel Temer (SP), não têm qualquer validade. "O despacho não resiste ao menor sopro de bom senso jurídico. A convenção de domingo não tem validade, nem legal, nem política", atacou o líder do PMDB no Senado, Renan Calheiros (AL).

A guerra interna dos últimos dias, tanto política quanto jurídica, deixou feridas nos dois lados do PMDB. Renan confirma que, neste momento, é impossível uma conciliação. "Durante o primeiro ano de governo, ficamos na aliança, sem cargos. O governo nos chama para uma coalização, cobrada por nós mesmos. Justo agora vamos sair? Como explicar isso?", cobrou o peemedebista alagoano.

Renan garante que não haverá entrega de cargos e insistiu na ilegalidade da convenção.

O ministro das Comunicações, Eunício Oliveira, confirmou que não se moverá politicamente - não deixa o governo, tampouco o PMDB. Lamentou a divisão no partido e cobrou o apoio à governabilidade, num momento em que o Brasil precisa de estabilidade para continuar crescendo. "Estou no PMDB desde 1972 e não consigo imaginar uma vida política fora do meu partido", declarou.

Já o ministro da Previdência, Amir Lando, confirmou que, se confirmado no cargo pelo presidente, poderá até deixar o PMDB. Segundo ele, este é um movimento em prol da governabilidade. Lando garantiu que as bancadas da Câmara e do Senado continuarão votando junto com o governo. "Se for para eu continuar como ministro, vou me desligar do partido. Peço uma licença", confirmou.

O presidente do Senado, José Sarney (PMDB-AP), acusou ontem o presidente do PMDB, Michel Temer (SP) de ser faccioso. "O PMDB vive uma crise grave e o maior culpado é o presidente da legenda", atacou.