Título: Espanha e Cuba aceleram reaproximação
Autor:
Fonte: Gazeta Mercantil, 14/12/2004, Internacional, p. A-10
A abertura do diálogo entre Espanha e Cuba e o diálogo para desbloqueio das relações econômicas e comerciais entre os dois países (paralisadas há três anos) caminha rapidamente e prevê-se o restabelecimento dos contatos oficiais já para o próximo ano, entre os governos. A aproximação foi consolidada após a reunião entre o ministro de Relações Exteriores de Cuba, Felipe Pérez Roque, e o embaixador da Espanha, Carlos Alonso Zaldivar, realizada no final de novembro.
Os motivos para o bloqueio diplomático estão no não pagamento da dívida com a Espanha e, posteriormente, nas sanções impostas pela União Européia (UE) ao regime de Fidel Castro. Embora ainda a nível de representações diplomáticas e em fase de contatos, desde a reunião com o ministro de Relações Exteriores, o assessor econômico e comercial baseado em Havana, Luis López, manteve reuniões com funcionários econômicos e com a Câmara do Comércio de Cuba, que os meios empresariais espanhóis interpretam como "os primeiros contatos para desbloquear as relações econômicas oficialmente", que, asseguram, "serão intensificadas, nos primeiros escalões, no início do próximo ano".
O maior problema a ser resolvido nessas negociações é a recapitalização das coberturas da Compañia Española de Seguros de Crédito a la Exportación (Cesce) para as operações comerciais de investimento com Cuba, atualmente suspensas para todas as linhas e prazos, pelo volume da inadimplência comercial que, em 1º de janeiro desse ano, acumulou ¿ 411,27 milhões (US$ 547,81 milhões), situando o país do Caribe no primeiro lugar da lista de clientes morosos do comércio espanhol, acima de Angola e do Iraque. Cuba é também o país que lidera a relação de atrasos por refinanciamentos com US$ 276,40 milhões. Como possível solução para esse problema, a Secretaria de Estado de Cooperação, incluiu a ilha do Caribe no programa de troca de dívida por investimentos em projetos de educação e formação destinado aos países em desenvolvimento, como forma de aliviar o endividamento. Embora o governo de Havana tenha sido sempre relutante em negociar acordos para converter a dívida em investimentos privados, o governo espanhol estima que os investimentos em projetos relacionados com a educação podem ter mais penetração na política cubana.
Pressões de empresários
O restabelecimento das relações econômicas responde também às pressões dos empresários espanhóis que, em diversas ocasiões, reiteraram aos governos espanhóis que "a política não deve interferir com os negócios". A Espanha é o primeiro investidor estrangeiro em Cuba, e os próprios empresários, que continuaram mantendo relações por meio das Câmaras de Comércio e participando anualmente da Feira de Havana, organizaram-se para cobrir as garantias que o Estado não oferece por meio da Cesce.
Na última edição da Feira de Havana, em 1º de novembro, na qual, surpreendentemente, um dos maiores pavilhões era dos Estados Unidos, participaram 85 empresas espanholas, além da representação oficial das Câmaras de Comércio e dos organismos de promoção no exterior das comunidades autônomas de Madri e Múrcia. A associação de empresários espanhóis em Cuba reúne 135 empresas, e várias delas constituíram uma espécie de sociedade de garantia recíproca para assegurar seus negócios na ilha.
A ausência de cobertura de riscos e o volume da inadimplência não foi obstáculo para os empresários seguirem com seus negócios em Cuba que, apesar de seu pequeno tamanho, é o quarto cliente da Espanha na América Latina, com exportações no montante de US$ 402,57 entre janeiro e setembro deste ano, ante importações espanholas de US$ 112,63. O último relatório da Oficina Comercial em Havana, destaca que só o México, Brasil e Chile superam a ilha caribenha como clientes da Espanha na região, enquanto que para Cuba, a Espanha é o primeiro fornecedor não petrolífero, e o segundo depois da Venezuela.
As pequenas e médias empresas são o autêntico motor das relações comerciais, ante a ausência quase total dos bancos e das multinacionais espanholas. Os principais setores de exportação espanhola são de maquinária, serviços de hotelaria, materiais de construção, autopeças e alimentos. A Espanha, com Itália e Canadá, aportam mais de 50% de todos investimentos externos em Cuba, sendo turismo o principal.