Título: Consumo de aço tem alta de 23% no RS
Autor: Guilherme Arruda
Fonte: Gazeta Mercantil, 14/12/2004, Gazeta do Brasil, p. B-13

Resultado deve-se à maior atividade industrial no estado. Para o ano que vem a estimativa é de alta entre 6% e 7%. O consumo de aço no Rio Grande do Sul encerra o ano de 2004 com um crescimento de 23%, atingindo 1,1 milhão de toneladas, ante as 886 mil toneladas registradas em 2003, conforme balanço feito pelo presidente da Associação do Aço do Rio Grande do Sul, José Antonio Fernandes Martins. Este aumento deve-se, segundo ele, basicamente ao incremento de pedidos por parte de fabricantes de tratores, colheitadeiras e implementos agrícolas, à indústria de equipamentos para transporte e também ao setor automotivo, puxado pela forte produção de veículos da unidade da General Motors em Gravataí, na região metropolitana de Porto Alegre.

"Também fomos favorecidos pelo crescimento da economia mundial", comentou o dirigente, ressaltando que o setor exportador foi uma das bases deste crescimento interno. Martins citou dados da Fundação Getúlio Vargas (FGV), que, em todo o Brasil, identificou o aumento do uso da capacidade instalada das indústrias, que atingiu a marca de 86,1%, com destaque para os setores de bens intermediários, com índice de 89% e de material de construção, com 85,8% no período de janeiro a novembro. "Não existe mais ociosidade", enfatiza Martins.

De acordo com ele, é justamente este esgotamento da capacidade de produção um dos fatores que contribuirá para inibir o crescimento mais vigoroso em 2005. Outro ponto é a previsão de menor crescimento das exportações brasileiras, em decorrência do reaquecimento mais brando da economia global, associada à redução do preço de commodities, efeitos do preço do barril de petróleo e ainda a oscilação cambial no Brasil pela conjugação de juros elevados e liquidez internacional (tendência de maior fluxo de dólares para o Brasil em 2005). Somando tudo, o consumo de aço previsto para o próximo ano no Rio Grande do Sul deverá aumentar entre 6% e 7%.

Como ponto positivo, ele assinala que as queixas em relação ao abastecimento levantadas este ano tendem a desaparecer em 2005. Para Martins, o que ocorreu foram alguns atrasos pontuais. "As reclamações partiram de pequenas indústrias que não possuem cotas junto às siderúrgicas e fazem suas compras direto das distribuidoras. Muitos destes distribuidores não conseguiram acompanhar este ritmo veloz de 23%", comenta o presidente da Associação de Aço do Rio Grande do Sul, lembrando que as siderúrgicas costumam trabalhar com uma antecipação de três meses em suas programações.

"Em 31 anos nunca vi um ano tão atípico quanto este", disse o gerente nacional de vendas da Cosipa, Edson Zanetti. "Não existe falta de aço. Existiu isto sim um cenário pouco previsível. Pedimos sempre aos nossos clientes que façam previsão de longo prazo", disse o assessor de marketing da Belgo Mineira, Luis Otávio Pessoa, acrescentando que a prioridade da compa-nhia é o mercado interno. De acordo com ele, o crescimento previsto para 2005 é da ordem de 8% no mercado interno, para um PIB estimado entre 3,5% e 4%. "O consumo de aço no Brasil é considerado baixo, 90 kg por habitante/ano, enquanto que na Espanha é de 500 kg per capita /ano", diz.

Preços elevados

Com relação ao comportamento dos preços do aço para o próximo ano, Martins informou que continuará a trajetória ascendente, embora com reajustes bem menores aos praticados este ano, quando atingiram 72%, em média. "Acho que passou a turbulência. A majoração não deve ficar nos níveis de 2004 e sim haver a partir de agora uma acomodação em relação a defasagem que existia entre os preços praticados aqui e no mercado internacional", disse.

Embora nenhum dos representantes da Acesita, Usiminas, Companhia Siderúrgica de Tubarão (CST), Cosipa, Companhia Siderúrgica Nacional (CSN), Belgo Mineira e Vega do Sul tenham falado em índices de aumentos no encontro anual promovido pela Associação do Aço do Rio Grande do Sul, realizada semana passada, Martins arrisca dizer que para 2005 eles ficarão, como média, entre 35% e 40% maiores. "Uma coisa é certa: os preços não voltarão aos níveis anteriores", comentou o diretor da unidade de laminados da CSN, Luiz Fernando Martinez, que lembrou a elevação que ocorreu nos preços das matérias-primas como carvão, minério de ferro e coque.

"Estamos negociando agora o preço do carvão mineral, que hoje é de US$ 125 a tonelada, ou o dobro do valor de um ano atrás", disse Luis Martinez, que deixou claro a posição de balizar os preços a partir da política de preços praticados na Europa. "Já a política comercial da empresa é discutir os preços com cada um dos clientes", frisou. O crescimento da CSN, maior usina integrada produtora de aço e coque da América Latina, será de 14% em 2004 em relação a 2003, próximo a 5 milhões de toneladas de aço, estima Martinez. O gerente geral de vendas da CST, Gustavo Humberto Fontana Pinto, comentou que as siderúrgicas enfrentaram um aumento substancial de custos e a defasagem do produto do mercado interno em relação ao mercado internacional. "Em 2005 vamos disponibilizar mais laminados quente ao mercado interno para suportar a expansão industrial não apenas do Rio Grande do Sul, mas de todo o país", disse. O despacho total para 2005 será de 2,3 milhões de toneladas, ante 1,9 milhão em 2005.