Título: Crédito para o Brasil regional
Autor: Armando Avena
Fonte: Gazeta Mercantil, 01/09/2004, Opinião, p. A-3

A economia do Norte, Nordeste e Centro-Oeste do País vem demonstrando seu dinamismo na busca de crédito para novos projetos. A prova disso está no desempenho da carteira de crédito dos Fundos Constitucionais que ampliaram suas aplicações, no primeiro semestre deste ano, em 104% em relação ao ano passado. As aplicações realizadas nos seis primeiros meses deste ano representaram quase 80% do total aplicado em 2003 e estima-se para 2004 que os três fundos constitucionais alcancem a aplicação recorde de R$ 5 bilhões. O Fundo Constitucional do Nordeste (FNE), por exemplo, registrou expansão recorde em relação aos exercícios anteriores e foi o líder das aplicações. As contratações no âmbito do FNE alcançaram, no primeiro semestre de 2004, o montante de R$ 1,4 bilhões, representando um incremento de 550% em relação ao mesmo período do ano passado. Até então, o maior volume de aplicações do FNE havia sido alcançado no segundo semestre de 1995, correspondendo, em valores atualizados monetariamente, a R$ 1,2 bilhões. Esse desempenho reflete não só o potencial de investimento regional, mas também a postura pró-ativa do ministro Ciro Gomes e da própria diretoria do Banco do Nordeste, que, desde 2003, vem estimulando a ampliação das operações de crédito entre investidores regionais e extra-regionais. Nesse ano, os financiamentos no âmbito do FNE apresentaram uma expansão de quase 300%, saltando dos R$ 254 milhões contratados em 2002 para R$ 1,2 bilhão em 2003. Mantendo a atual dinâmica, a instituição deverá alcançar novo recorde ao final de 2004, ultrapassando a meta de R$ 3 bilhões e superando o volume de R$ 2,8 bilhões, alcançado no ano de 1991. Registre-se que o Banco do Nordeste tem em carteira, sendo analisados, mais de R$ 8 bilhões de investimentos projetados, com propostas que demandam financiamentos superiores a R$ 4 bilhões, o que garante um desempenho expressivo em 2004. No primeiro semestre, o destaque foi para a carteira comercial e de câmbio, que representou 31% das aplicações, tendo as contratações na área de crédito rural representado 28% do total, enquanto as operações referentes ao crédito industrial corresponderam a 23%. Assinale-se também a retomada dos financiamentos na área de infra-estrutura, que somaram R$ 377 milhões (18% das contratações globais do banco) nos primeiros seis meses deste ano. O avanço nas aplicações do FNE demonstra que existe uma demanda crescente de recursos na região Nordeste e desmente a tese de que a subaplicação verificada anteriormente era fruto do pouco dinamismo regional. Na verdade, bastou que a retomada da economia desse os primeiros sinais e que o sistema operativo do banco adotasse uma postura mais pró-ativa para que o patrimônio de mais de R$ 4 bilhões de recursos estacionado na carteira do FNE começasse a ser aplicado, demonstrando que, quando é convocada corretamente, a economia do Nordeste atende. O mesmo vale para as regiões Norte e Centro-Oeste do País, cujas economias também vêm demandando crédito de forma crescente. Acesso ao crédito é um instrumento fundamental na redução das disparidades regionais e, nesse sentido, seria fundamental que o Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES), que vem aumentando de forma significativa suas aplicações globais, voltasse seus olhos também para o Norte e o Nordeste. Nesse sentido, registre-se que a instituição vem aumentando as aplicações regionais, especialmente no âmbito das políticas focadas em arranjos produtivos locais, mas ressente-se de maior dinamismo na identificação de oportunidades de negócios nas regiões mais pobres do País. Em 2003, por exemplo, as regiões Norte e Nordeste, que abrigam mais de 30% da população do País, foram contempladas com apenas 12% dos desembolsos do banco. No primeiro semestre de 2004, a participação ampliou-se para 13%, mas os recursos destinados ao Nordeste reduziram-se de 9% para 7%. Essa participação débil não decorre, como geralmente se apregoa, da inexistência de tomadores ou de projetos, como se comprova no caso dos Fundos Constitucionais, mas da falta de uma postura mais agressiva do banco na atração de investidores. O presidente do BNDES, Carlos Lessa, que conhece de perto a questão das disparidades regionais, entrará para a história se criar na estrutura do banco, assim como fez no relacionado à inclusão social, uma área de crédito especializada para investidores regionais e extra-regionais interessados em montar projetos nas regiões mais pobres do País. Com isso, daria um passo fundamental na construção de um Brasil mais harmônico.