Título: Governo define pauta para os próximos dois anos
Autor: Paulo de Tarso Lyra e Sérgio Pardellas
Fonte: Gazeta Mercantil, 13/12/2004, Política, p. A-9

O governo Luiz Inácio Lula da Silva definiu como horizonte para os próximos dois anos a busca do desenvolvimento econômico e social. Durante dois dias, os ministros debateram com o presidente os acertos e erros de 2004 e alinhavaram os projetos que serão prioritários. De acordo com o chefe da Casa Civil, ministro José Dirceu, depois de um primeiro ano de ajuste fiscal e início de reformas constitucionais e um segundo ano com maior geração de emprego e renda, o País está preparado para crescer de fato.

"Crescimento e inclusão social, com democracia. Sem inclusão, não podemos pensar em desenvolvimento. A razão de ser do nosso governo é o social", resumiu o chefe da Casa Civil, escolhido pelo presidente para ser o porta-voz do Executivo ao final do encontro ministerial na Granja do Torto.

Dirceu reconheceu que é fundamental enfrentar o desafio do financiamento, que passa pela consolidação de uma poupança nacional, pelo controle da inflação e pela estabilidade da economia. Defendeu a necessidade de um investimento maciço em infra-estrutura, principalmente portos, aeroportos, rodovias e ferrovias. Lembrou que o governo terá uma folga decorrente dos R$ 3 bilhões para investimentos, acordados com o Fundo Monetário Internacional (FMI).

O ministro disse acreditar que será fundamental garantir a confiança dos investidores para aplicar recursos no Brasil. Destacou a importância da aprovação da reforma do Judiciário, como forma de garantir a estabilidade jurídica e a necessidade de aprovação de matérias que ainda tramitam no Congresso, como as agências reguladoras, as Parcerias-Público-Privadas e a Lei de Falências.

Numa interpretação do sentimento do setor privado, Aloizio Mercadante (PT-SP), líder do governo no Senado, disse que os investimentos das empresas será intensificado no ano que vem. Pelos cálculos do Ministério do Planejamento, as aplicações em novos projetos ficarão em 20% do Produto Interno Bruto (PIB). "É um bom indicador de que estamos criando capacidade produtiva", avaliou o lider do governo.

Além do setor produtivo, também está nos planos do governo em 2005 a intenção é sedimentar ainda mais a relação com a população, seja mais carente ou a classe média e a sinalização para isto é a certeza de que haverá correção na tabela do imposto de renda.

Após desonerar os bens de capital, a equipe econômica prepara um pacote no mesmo sentido para o consumidor. "O ministro Antônio Palocci, em seu discurso, também deixou claro que o país precisa de crédito, abundante, acessível, vindo do Banco do Brasil, Caixa, BNDES e bancos privados" afirmou Dirceu.

O Executivo também está de olho na área social. Na saúde, o presidente afirmou que o foco será a melhoria no atendimento à população. Uma das principais marcas do governo Lula nestes dois anos ¿ as seguidas operações da Polícia Federal e as fiscalizações promovidas pela Controladoria-Geral da União ¿ vão continuar. Dirceu confirmou que será intensificada a fiscalização para evitar desvios de verbas em programas sociais como o Bolsa-Família, por exemplo. "Esta será uma obsessão do governo nos próximos dois anos".

O Planalto está convicto que precisa aproveitar o bom momento da economia no cenário externo. De acordo com o ministro Dirceu o bom desempenho de 2004 pode não se repetir no próximo ano e uma das preocupações é o preço das commodities.

kicker: Depois de ajuste fiscal e início de reformas constitucionais, o governo quer crescimento