Título: Expansão é de 1,5% ante o primeiro trimestre
Autor: Mônica Magnavita
Fonte: Gazeta Mercantil, 01/09/2004, Nacional, p. A-5

O crescimento do Produto Interno Bruto (PIB) de 5,7% no segundo trimestre de 2004, ante igual período do ano passado, representa a maior taxa registrada desde o terceiro trimestre de 1996, segundo dados divulgados ontem pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE). Para se observar o desempenho mais próximo da realidade, os especialistas preferem analisar os dados do crescimento do PIB na margem, comparando o segundo trimestre com o primeiro. Sobre o primeiro trimestre, no indicador com ajuste sazonal, o PIB registrou aumento de 1,5%. Independentemente da base de comparação utilizada, os números do PIB ficaram dentro das estimativas do mercado.

As comparações entre a soma de todas as riquezas produzidas no País no segundo trimestre deste ano em relação ao total produzido no mesmo período do ano passado e no primeiro semestre frente ao mesmo período de 2003, são consideradas superestimadas em função da fraca base de comparação. No acumulado do primeiro semestre de 2004, o PIB cresceu 4,2%, a maior alta registrada desde 2000. Já no acumulado dos últimos quatro trimestres a alta foi de 1,7% ante os quatro trimestres imediatamente anteriores, base que corresponde ao que será o resultado anual do PIB no final de 2004.

Com o objetivo de comparar o crescimento da economia brasileira com o desempenho econômico dos Estados Unidos, o economista do Unibanco, Mauricio Oreng anualiza a taxa. "O PIB cresceu 6,1% no segundo trimestre, segundo a taxa anualizada e sazonalmente ajustada, contra 2,8% de crescimento nos Estados Unidos no mesmo período", disse Oreng otimista com os números.

"Os números foram positivos em todas as bases de comparação", disse o economista da LCA Consultores, Francisco Pessoa. De acordo com Pessoa, os fortes números do primeiro semestre deste ano em relação ao mesmo período do ano passado se devem à fraca base de comparação. Mas os dados também foram positivos na margem, isto é na comparação do segundo trimestre com o primeiro trimestre deste ano.

Para o presidente da Sociedade Brasileira de Estudos de Empresas Transnacionais e da Globalização Econômica (Sobeet), o economista Antonio Corrêa de Lacerda, os grandes destaques dos dados do IBGE foram os números do consumo e de investimento. "O crescimento do consumo mostra que o ano deve encerrar com um maior balanceamento entre as demandas interna e externa", disse Lacerda. Enquanto no primeiro trimestre a atividade ainda era puxada pelo setor externo, no segundo trimestre houve reversão neste quadro.

"No primeiro trimestre deste ano, as exportações líquidas foram responsáveis por 75% do crescimento do PIB. Com a reação da demanda doméstica no segundo trimestre, esta participação caiu para 39% do crescimento do PIB", avaliou Oreng. Já na estimativa do Instituto de Estudos para o Desenvolvimento Industrial (Iedi), no primeiro trimestre de 2004, cerca de 55% do crescimento deveu-se ao desempenho das exportações líquidas e, no segundo trimestre, o setor externo explicou somente 15,4% do crescimento.

O economista da LCA, Braulio Borges, também enfatizou os dados marginais de consumo das famílias brasileiras que praticamente dobrou no último trimestre. O crescimento do consumo de 0,8% registrado no primeiro trimestre deste ano frente ao último trimestre do ano passado, saltou para 1,5% no segundo trimestre frente ao primeiro. Além destes dados, o IBGE também mostra outro ponto positivo: o crescimento dos investimentos no País.

A Formação Bruta de Capital Fixo (FBCF), indicador que mede os investimentos, mostrou crescimento de 11,7% no segundo trimestre deste ano ante igual período do ano passado. Na comparação do segundo trimestre com o primeiro trimestre, a alta também foi de 1,5%. Já o crescimento no primeiro semestre ante igual período de 2003, o aumento foi de 6,8%, a maior taxa semestral desde 2001.

Lacerda ressaltou ainda o desempenho do setor industrial puxado pela indústria de transformação e mais especificamente pelos Bens de Capital. "O desempenho positivo de bens de capital reflete a retomada dos investimentos", disse ele. Para Lacerda, o único setor da economia que não irá apresentar desempenho acima do esperado será o setor agrícola, devido a problemas de safra. "Todos os setores da economia devem superar a expectativa, principalmente a indústria", disse o economista.

Os dados divulgados ontem confirmam que a indústria puxou o crescimento do PIB no segundo trimestre ante igual período de 2003. Segundo o IBGE, a indústria cresceu 6,6% nesta base de comparação, enquanto a agropecuária registrou crescimento de 5%, e os serviços, de 4,4%. Na comparação do segundo semestre com igual semestre do ano passado, a maior resultado entre os setores foi registrado na agropecuária, com aumento de 5,7%. A indústria cresceu 4,7% no semestre e os serviços registraram alta de 2,8%.

Já na margem, que compara o segundo trimestre com o primeiro trimestre deste ano, o maior crescimento entre os setores foi registrado nos serviços (2,5%), enquanto a agropecuária (¿0,3%) e a indústria (¿0,2%) apresentaram taxas negativas, nesta série com ajuste sazonal, que foram consideradas "estáveis" pelo IBGE.