Título: Consumo interno puxa o crescimento
Autor: Mônica Magnavita
Fonte: Gazeta Mercantil, 01/09/2004, Nacional, p. A-5

Taxa de 5,7% no segundo trimestre faz semestre fechar com expansão econômica de 4,2%. O crescimento de 4,2% do Produto Interno Bruto (PIB) brasileiro no primeiro semestre deste ano e de 5,7% no segundo trimestre em relação ao mesmo período de 2003, segundo dados divulgados ontem pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), revela mudanças importantes na economia do País. Pela primeira vez, ao longo dos últimos meses, o consumo interno e os investimentos - a Formação Bruta de Capital Fixo - contribuíram decisivamente para o crescimento do PIB. Segundo o IBGE, os investimentos cresceram 11,7%, depois de quedas sucessivas nos quatro últimos trimestres, e o "consumo das famílias" aumentou 5% de abril a junho de 2004, em relação aos mesmos meses de 2003.

"A indústria não está mais produzindo só para exportar. A demanda do mercado interno cresceu", disse o gerente de Contas Trimestrais do IBGE, Roberto Olinto. Ele disse que a expansão do PIB no segundo trimestre deste ano foi a maior desde o terceiro trimestre de 1996 (6,3%), e bem superior aos 2,7% do primeiro trimestre de 2004. Em relação ao primeiro trimestre deste ano, a alta foi de 1,7%, descontados os ajustes sazonais. O resultado semestral, de 4,2%, foi o maior desde o primeiro semestre de 2000.

Para o ano, previsão supera 4%

Diante dos últimos números, o crescimento da economia em 2004 vai superar os 4%, conforme as projeções do Instituto de Pesquisa de Economia Aplicada (Ipea). "Nossa última estimativa de crescimento de 3,5% já estava superada. Agora, com o resultado do PIB está sepultada", disse o coordenador da equipe de conjuntura do Ipea, Fábio Giambiagi.

No primeiro semestre deste ano, conforme o IBGE, a agropecuária cresceu 5,7%, a indústria 4,7% e o setor de serviços 2,8%. No segundo trimestre, as participações relativas dos componentes do PIB mudaram. O crescimento no período foi puxado pela indústria, com uma expansão de 6,6%, ultrapassando o setor agropecuário, com alta de 5%, que, até então, vinha sustentando a expansão da economia. O setor de serviços também passa a ter uma participação expressiva no desempenho do PIB, com alta de 4,4% entre abril e junho deste ano em relação ao mesmo período de 2003.

Os bons resultados divulgados ontem pelo IBGE mostram que a atividade da construção civil, após cinco semestres consecutivos de quedas de desempenho, aumentou 6,7%, refletindo a melhora do consumo doméstico. "A alta foi maior do que se esperava", disse Mérida Herasme Medina, economista do Ipea. Os números mostram que a absorção interna, que é a soma do consumo doméstico e os gastos com importações, cresceu, no segundo trimestre, 5,5% em relação ao mesmo período do ano passado, uma alta superior à do primeiro trimestre, de 2004, de 2,7%. Os resultados refletem o aumento do consumo das famílias, provocado pela expansão da massa salarial, com uma ampliação de 6,4%. O crescimento da massa salarial no ano, conforme Luiz Eduardo Parreiras, também do Ipea, pode atingir 15%. "Um número excepcional", disse.

Um sinal amarelo à frente

Na atividade industrial, o subsetor com maior taxa de crescimento foi o da indústria de transformação, de 8,5%. O desempenho do segmento de máquinas equipamentos, que influenciou os bons resultados dos investimentos, não se resume ao aumento da produção. As importações cresceram 18,2% no segundo trimestre deste ano e as exportações aumentaram 50,9%. "A produção de bens de capital estava sendo sustentada pelas exportações. Mas agora está havendo alta das importações em resposta à aceleração da atividade econômica", disse Medina.

Apesar das boas notícias, há um sinal amarelo à frente. O ritmo de expansão da economia poderá gerar pressões inflacionárias, caso os investimentos em ampliação da capacidade produtiva não acompanhem o crescimento do PIB. "Com esse nível de investimento não será possível crescer a 6%, como ocorreu no segundo trimestre deste ano", disse Fábio Giambiagi.