Título: O otimismo oficial para 2005
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Fonte: Gazeta Mercantil, 15/12/2004, Opinião, p. A-3
Se o futuro do Brasil depender do otimismo das declarações oficiais, as perspectivas para o próximo ano são muito boas. Na segunda-feira, o ministro-chefe da Casa Civil José Dirceu traçou um plano de ação para o próximo ano que prevê crescimento em torno de 5%, desemprego inferior a 10%, risco-país em 200 pontos e estabilidade econômica com desenvolvimento social, sem abrir mão do rigor fiscal, do regime de metas de inflação e do câmbio flutuante. Uma equação matematicamente difícil de ser resolvida, mas politicamente possível, desde que haja engenho e arte, como diria o poeta Camões. O ministro, pelo menos, prometeu trabalhar dia e noite para atingir esses objetivos.
Ontem, foi a vez do presidente Luiz Inácio Lula da Silva. Ao inaugurar o terceiro terminal de cargas do Aeroporto Internacional Eduardo Gomes, em Manaus, Lula se entusiasmou: "Aqueles que se surpreenderam com o crescimento econômico do País em 2004 vão ficar ainda mais surpresos em 2005, com a política social, com a política de geração de empregos neste País." Uma declaração que certamente deixaria surpreso - ainda mais por ter sido dita por um ex-operário que se tornou presidente da República - o falecido brigadeiro que deu seu nome ao aeroporto manauara e foi candidato duas vezes derrotado à Presidência da República, em 1945 e 1950, pela União Democrática Nacional (UDN).
O otimismo presidencial se deve também, certamente, entre outros fatores, aos resultados das pesquisas CNI-Ibope e CNT-Sensus. A primeira, divulgada na semana passada, constatou que a confiança no chefe do executivo atingiu 63% em novembro, e o porcentual dos pesquisados que consideram o governo ótimo ou bom passou de 38%, em setembro, para 41%. Além disso, se as eleições fossem hoje, Lula estaria em primeiro lugar, com 42% a 49% das preferências. Já a pesquisa CNT-Sensus, divulgada ontem, mostra que se a eleição fosse hoje o presidente se reelegeria em primeiro turno, com 43,8% dos votos.
Parcela considerável do bom resultado da economia neste ano se deve ao desempenho do agronegócio brasileiro, principalmente o voltado às exportações. De janeiro a novembro, o setor conseguiu um superávit comercial de US$ 31,578 bilhões, resultado 34,3% superior ao do mesmo período de 2003. No ano, o superávit deve atingir US$ 33 bilhões. E o setor foi responsável ainda por 41,3% das exportações globais do País, além de contribuir com 34% para o Produto Interno Bruto (PIB) nacional.
E isso ocorre num momento em que o Brasil assume a liderança mundial nas exportações de carnes de frango, boi e suínos, com vendas de 4,2 milhões de toneladas e receita cambial de US$ 5,8 milhões. A maior responsável por esse resultado foi a carne de frango. Pela primeira vez na história, as exportações de frango devem superar as dos Estados Unidos, e o País deve se tornar o maior exportador do produto no mundo, em volume e receita.
Some-se a isso o fato de que a estimativa da produção de grãos da Companhia Nacional de Abastecimento (Conab) para a safra 2004/2005 aumentou 1 milhão de toneladas em relação à previsão de outubro e deve chegar a 131,921 milhões de toneladas.
Apesar desses dados, a previsão do ministro da Agricultura Roberto Rodrigues é de que, para o agronegócio, o ano de 2005 "será um pouco mais difícil", embora o setor continue a ter peso significativo na balança comercial brasileira. E a Associação Nacional dos Fabricantes de Veículos Automotores (Anfavea) prevê retração de 10% nas vendas de tratores e máquinas agrícolas no próximo ano.
Para que o agronegócio continue a contribuir efetivamente para o crescimento da economia e para o bom desempenho do comércio exterior brasileiro, o governo deve dar uma mãozinha, segundo o ministro, que negocia recursos adicionais no Orçamento da União para 2005. A proposta do governo é de apenas R$ 500 milhões, mas Rodrigues quer incluir mais R$ 2 bilhões por meio de emendas parlamentares. E para isso teria apoio do ministro da Fazenda, Antonio Palocci Filho, desde que as fontes sejam garantidas no Orçamento.
A concretização dos prognósticos otimistas vai depender não só de outras medidas internas, como redução de juros, desvalorização do real e aumento dos investimentos públicos e privados (com ou sem Parcerias Público-Privadas), mas também de fatores externos, como a redução dos preços do petróleo, do crescimento internacional e da solução dos déficits comercial, orçamentário e de conta corrente dos EUA, entre outros. Mas o Brasil já combinou isso com os adversários? - como um dia, no passado, o ingênuo Garrincha perguntou ao técnico Vicente Feola... kicker: A concretização dos prognósticos otimistas vai depender não só de medidas internas, mas também de fatores externos