Título: Um negócio para corações fortes
Autor: Paul Sistare
Fonte: Gazeta Mercantil, 15/12/2004, Opinião, p. A-3

O mundo globalizado enfrenta grandes desafios, tanto socioculturais quanto político-econômicos. Nesse contexto, a hotelaria mundial não se encontra em situação diferente. A indústria da hospitalidade tem um grande número de desafios, que resultam da diversidade de acontecimentos globais, como as crises políticas e econômicas, conflitos religiosos e culturais. Tantas transformações causam impacto no resultado do menor hotel, chegando até as grandes redes internacionais. Dessa forma, os hoteleiros de sucesso precisam assimilar as mudanças e adaptar seus negócios. É interessante ressaltar que a maioria das grandes companhias hoteleiras está ansiosa em procurar o leste europeu ou o oeste da Ásia e quase não olham para o Brasil, uma das maiores economias do mundo. Percebemos essa realidade e, há cinco anos, decidimos incentivar a vinda de alguns grupos internacionais para o País. Atualmente, o Brasil tem mais cidades com população com 250 mil habitantes do que os Estados Unidos. São localidades que apresentam demanda para o desenvolvimento da indústria da hospitalidade e, portanto, são férteis mercados para receber empreendimentos, especialmente de bandeira internacional. Identificado como middle market, esse nicho tem se revelado oportuno para quem deseja participar da terceira onda de desenvolvimento do mercado hoteleiro do Brasil, em especial nas regiões secundárias e terciárias, consideradas oportunas para a competição hoteleira. Quando as companhias de hotéis internacionais estudam o Brasil, identificam oportunidades tão óbvias quanto saturadas, como nas cidades do Rio de Janeiro e São Paulo, e ignoram cidades com populações acima de um milhão de habitantes, onde as marcas hoteleiras são raras. O Brasil já se destaca como o país que detém o parque hoteleiro mais desenvolvido e modernizado na América do Sul por conta dos investimentos recebidos nos últimos anos, em grande parte por organizações-modelo da hotelaria mundial. O último "Raio-X da Hotelaria Brasileira", realizado pela Amazonas Press, aponta que existem no País 18 redes internacionais em operação. A despeito de algumas dificuldades, o Brasil é o melhor país na América do Sul para se investir. A boa oportunidade que identifico são os hotéis econômicos. O ambiente político brasileiro tem se estabilizado substancialmente nos últimos tempos. Isso vem gerando boas oportunidades de negócio e atraindo empresas multinacionais. Do ponto de vista da hospitalidade, 2004 e 2005 ainda serão anos de estabilização da ocupação hoteleira. Depois do boom de novos produtos nos últimos três anos, o mercado ficou menos aquecido e forçou os operadores de novos produtos a improvisar tarifas, enquanto aguardam o equilíbrio natural da oferta e da demanda. O mercado de São Paulo continuará lutando contra o excesso de produtos, ampliando o calendário de eventos empresariais e de lazer. Já as cidades secundárias e terciárias serão as grandes beneficiadas pela abertura de novas unidades. Apesar desse constante movimento em busca de melhores resultados, existem fundamentos básicos e imutáveis para o sucesso hoteleiro, como uma equipe amigável, quartos impecáveis, um ambiente seguro e o melhor retorno de vendas para o investidor. O segredo do sucesso, nesse caso, está em saber equacionar o melhor custo operacional com a oferta de produtos e serviços de qualidade aprovada pelos clientes. Todos esses desafios acabam produzindo um ótimo exercício mental para os profissionais hoteleiros. Esse trabalho é árduo e longo. Não são em dois dias que recebemos o retorno por ele. O que mais me surpreende nesse ramo são os novos profissionais e suas idéias. O favorecimento do jovem hoteleiro apto a superar os desafios da nossa indústria é algo muito gratificante. Eu nunca paro de me surpreender com as atitudes que são plantadas e depois crescem em programas que produzem resultados. Muitas vezes, a simples idéia de um gerente-geral acaba se tornando um case de gerenciamento de hotéis. Por isso, observar os colaboradores e o seu crescimento pessoal é a melhor recompensa. Meu principal conselho para os meus colegas hoteleiros é: a indústria hoteleira é um negócio e não um show de fantasia da TV. Devemos encarar cada dia como um desafio a ser vencido, ter a certeza de que os hóspedes saem com boas lembranças e entregar aos donos dos empreendimentos a valorização permanente do capital. O negócio, portanto, não é para corações fracos. kicker: O Brasil é o país que tem o parque hoteleiro mais desenvolvido e modernizado da América do Sul