Título: Improviso até 2014
Autor: Hessel, Rosana
Fonte: Correio Braziliense, 15/04/2011, Economia, p. 12

Estudo do Ipea reconhece que o governo não tem como concluir e entregar obras de 9 aeroportos das cidades sede da Copa do Mundo

Opaís do futebol está tomando uma goleada nos treinos preparatórios para a Copa do Mundo de 2014, ao menos no fundamento infraestrutura. Convocado a oferecer condições adequadas aos torcedores que visitarão as 12 cidades sedes durante o mundial, o Brasil não conseguirá concluir e entregar as obras de pelo menos 9 dos 13 aeroportos em reforma ou ampliação. O Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (Ipea), uma entidade do governo, admitiu que os investimentos previstos não serão suficientes para atender a demanda de passageiros projetada até 2014. Terão o atendimento comprometido cerca de 600 mil turistas estrangeiros que virão ao país para assistir ao maior evento futebolístico do planeta.

Além de confirmar o que todos já sabiam, um estudo produzido pelo Ipea apontou uma realidade ainda mais grave: só há tempo hábil para a construção de terminais provisórios ¿ os chamados ¿puxadinhos¿ ¿até a Copa. O quadro desenhado também mostrou que há erro no dimensionamento dos planos de ampliação dos aeroportos. Em sua maioria, eles ainda estão na fase inicial de execução de projeto ou nem mesmo tiveram as obras licitadas. E pior: quando concluídos, já estarão saturados.

¿Dos 13 aeroportos incluídos no plano de investimentos da Infraero (Empresa Brasileira de Infraestrutura Aeroportuária) para as cidades sedes da Copa, apenas três não estarão no limite da capacidade até 2014¿, afirmou Carlos Campos Neto, especialista do Ipea e coautor do estudo. A estatal responsável pela operação de 67 aeroportos brasileiros investiu apenas R$ 3,3 bilhões dos R$ 7,5 bilhões previstos entre 2003 e 2010. Se mantiver o mesmo ritmo nos próximos três anos, aplicará R$ 2,5 bilhões dos R$ 5,6 bilhões previstos para as cidades sedes da Copa.

Instalações provisórias, como as da capital, estão se tornando permanentes Saturação Campos Neto destacou que setor da aviação atravessa um momento crítico. Dos 20 maiores aeroportos, 17 já operam acima do limite de capacidade. ¿Os aeroportos não ficarão prontos para amenizar os gargalos existentes hoje¿, reconheceu. Um projeto completo de infraestrutura demora 7,5 anos para ser concluído. A Infraero informou que não participou das discussões técnicas sobre o trabalho do Ipea e que, por isso, evitou fará avaliações sobre ele. As conclusões, contudo, não causaram surpresas a especialistas. ¿O estudo do Ipea não traz nenhuma novidade além do que já alertamos no início de 2010¿, comentou o diretor-presidente do Sindicato Nacional das Empresas Aeroviárias (Snea), José Márcio Mollo.

Aos olhos do Snea, o Aeroporto Internacional de Brasília é um exemplo de saturação. ¿A capacidade é de 10 milhões de passageiros por ano. O puxadinho que fizeram no lugar onde teria que ser construído o novo terminal tem capacidade para 2 milhões de passageiros e o aeroporto hoje já recebe 14 milhões¿, comparou Mollo. Em entrevista ao Correio, o novo presidente da Infraero, Gustavo Vale, ressaltou que concessões, parcerias e até mesmo a abertura do capital da Infraero estão sob a análise do governo ¿ as medidas acelerariam a modernização dos aeroportos. ¿Mesmo que se privatize a Infraero e façam licitações de terminais como o governo planeja, não haverá tempo hábil para que esses terminais fiquem prontos até a Copa¿, ponderou Campos Neto. (Colaborou Silvio Ribas)