Título: Culpado pela competência
Autor: Evaristo Machado Netto
Fonte: Gazeta Mercantil, 16/12/2004, Opinião, p. A-3

O produtor é castigado por enfrentar tudo e todos e vencer. Os lobbies internacionais, interessados em manter as barreiras protecionistas, estimulam uma campanha de algumas ONGs e parte da imprensa internacional contra o agronegócio brasileiro. Os ataques começam fora do Brasil e aqui ganham adesões ingênuas. A campanha atribui o crescimento e a qualificação da agropecuária nacional ao desmatamento da Amazônia, ao desrespeito ao meio ambiente e à falta de cuidados com a segurança alimentar e à produção de alimentos transgênicos. A pressão aumentou depois de o País receber pareceres favoráveis nos contenciosos internacionais contra os subsídios ao algodão norte-americano e ao açúcar na União Européia. Os competidores, incomodados pelo nosso sucesso, tentam levar os produtores brasileiros para a armadilha absurda de provar inocência frente a acusações infundadas. A opinião pública nacional é estimulada a se voltar contra os produtores rurais, apesar de o agronegócio brasileiro representar 33% do PIB, criar 37% dos empregos do País e ser responsável por 42% das exportações. No desmatamento da Amazônia, os fatos estão do lado dos agricultores: a área plantada com algodão, arroz, milho e soja na Amazônia Legal, na safra 2003/2004, foi de 9 milhões de hectares, só 1,8% dos 500 milhões de hectares da região. Nos últimos 14 anos, a área plantada em todo o País aumentou 24% para um crescimento da produção da ordem de 126,3%. A produtividade agrícola brasileira foi 85,5% maior, sem precisar recorrer à área amazônica. A segunda acusação que contrapomos é o suposto desrespeito ao meio ambiente. A realidade é muito diferente. Empresários rurais investem em projetos de sustentabilidade e buscam a ISO 14000 no Brasil, país com excelente legislação sobre recolhimento de embalagens de agrotóxicos. Esse programa específico de reciclagem tem desempenho melhor no Brasil do que na Alemanha e na França. Além disso, mais da metade da área ocupada com grãos passa pelo plantio direto, ecologicamente responsável e preventivo da erosão. Ainda somos obrigados a clamar inocência contra a acusação de crescer sem preocupação com a segurança alimentar e com os transgênicos. A verdade é que o País colheu 4,1 milhões de toneladas de soja transgênica na safra 2003/2004 ou 8,2% do total de 50,18 milhões de toneladas de toda a safra do período. Portanto, a exportação não cresceu por causa de sementes transgênicas. As persistentes mentiras aqui refutadas tentam encobrir a constatação de que as nossas conquistas são fruto de investimentos, pesquisa e modernização, apesar da precária infra-estrutura de escoamento da produção e de armazenamento, dos escassos recursos para o financiamento e comercialização, das inúmeras barreiras tarifárias e sanitárias e dos subsídios agrícolas nos países concorrentes. Além disso, essa rede de mentiras sobre o agronegócio tenta também atingir as orientações da Presidência da República pela defesa dos interesses nacionais. Enfim, os produtores são castigados por serem competentes, por enfrentarem tudo e todos e, ainda assim, saírem vencedores.