Título: O que falta às telecomunicações
Autor: Carlos Eduardo Rocha
Fonte: Gazeta Mercantil, 16/12/2004, Opinião, p. A-3

A maior missão do setor é usar esse meio em auxílio da educação. Exemplo inquestionável de expansão e desenvolvimento na última década, o desafio do serviço de telefonia no País já não é mais fazer com que o aparelho de telefone esteja ao alcance da população, embora ainda haja pequenas correções a serem feitas com relação à disponibilidade do serviço. A maior missão do setor, a partir de 2005, é torná-lo um instrumento de auxílio à educação e à informação dos menos favorecidos por meio da rede mundial de computadores. Para isso, projetos do governo não bastarão. Será necessário o envolvimento consciente das operadoras de telefonia e provedores de acesso nesse desafio. Os benefícios incalculáveis suscitados pela modernização das telecomunicações no País no que se refere à emissão e recebimento de mensagens faladas precisa evoluir ainda mais e se tornar objeto de desenvolvimento e apoio educacional, utilizando recurso de transferência de dados que a linha telefônica permite. O sistema de telefonia brasileiro, um dos dez maiores do mundo, com uma rede fixa capaz de atender mais do que o número existentes de usuários, inclusive os potenciais, e que viabilizou milhares de operações em nome do fortalecimento econômico brasileiro, tem, a partir do próximo ano, o compromisso de se engajar definitivamente nessa cruzada de disponibilizar de maneira ampla e irrestrita o conhecimento à população mais necessitada, utilizando a poderosa rede mundial de computadores. A realidade é que precisam sair do papel, de forma urgente, os projetos de implantação de infra-estrutura de acesso à internet pela rede de telecomunicações, principalmente às escolas e bibliotecas freqüentadas por cidadãos de baixa renda deste imenso território nacional. É isso que falta para massificar no País as telecomunicações, independentemente de qualquer regra já estabelecida entre o poder concedente e as operadoras. Não há construção sólida de uma país sem investimento em educação. E, nesse aspecto, o quadro atual é extremamente preocupante. A contribuição das empresas de telecomunicações e tecnologia e o governo é definir já como fazer deslanchar esse grande projeto. A aplicação dos recursos do Fundo de Universalização das Comunicações (Fust) é hoje o maior meio disponível para isso. Mas é necessário que se faça a regulamentação de uso desse fundo o quanto antes, colocando nas discussões sobre o assunto as vantagens sociais do recurso à frente dos interesses das partes envolvidas. Nessa tarefa de desenvolvimento da infra-estrutura de acesso à internet de forma extensiva, investimentos serão importantes e imprescindíveis, devendo ser pensados e friamente calculados, sem gerar prejuízo a nenhum participante do processo. Porém, o componente da responsabilidade desse papel educacional deve seguir junto. As telecomunicações já fizeram história em tão pouco tempo porque colocaram os cidadãos dos quatro cantos do Brasil para se comunicarem. É hora de contribuir de maneira mais decisiva para a formação educacional da população. É o que falta para as telecomunicações serem definitivamente o setor líder dos novos tempos no Brasil.