Título: Itamaraty diverge de avaliação da CNI sobre acordo com a CAN
Autor: Gisele Teixeira
Fonte: Gazeta Mercantil, 16/12/2004, Nacional, p. A-5

O Ministério das Relações Exteriores apresentou dados que divergem do estudo divulgado no início da semana pela Confederação Nacional da Indústria (CNI), e publicado ontem na Gazeta Mercantil, que coloca o Brasil em desvantagem no acesso a mercados nas negociações entre Mercosul e Comunidade Andina de Nações (CAN). O trabalho compara a abertura alfandegária oferecida pelo País com as que as nações do bloco andino (Colômbia, Venezuela, Equador mais o Peru) oferecem em contrapartida.

De acordo com o Itamaraty, de janeiro a setembro deste ano as exportações brasileiras para a CAN foram de US$ 2,87 bilhões, um crescimento de 66,4% em relação ao mesmo período do ano passado. Na outra ponta, as importações chegaram a US$ 1,03 bilhão, 23,% a mais que em 2003.

Mesmo com a ampliação do mercado, o Itamaraty faz questão de ressaltar que a idéia não é entrar em outras economias da comunidade andina de forma avassaladora, e sim incrementar o comércio respeitando as assimetrias entre os países. O objetivo é ganhar a confiança das nações e mostrar que a parceria pode ser proveitosa para todas as partes.

"Tanto é que o ministério tem feito um esforço para divulgar no continente o Programa de Substituição Competitiva das Importações (PSCI)", afirma um funcionário do Itamaraty.

Analisando-se os dados por País, a maior vantagem brasileira no comércio bilateral regional este ano se deu em relação à Venezuela. As exportações para o país vizinho, nos nove primeiros meses do ano, chegaram a US$ 987 milhões, contra US$ 120 milhões de importações. "Uma relação de oito para um" destaca um diplomata. Na comparação com o mesmo período do ano passado, as vendas do Brasil para a Venezuela tiveram um incremento de 175,1%, o maior registrado entre os países da CAN.

No caso da Colômbia, o Ministério das Relações Exteriores lembra que as vendas brasileiras cresceram 45% e chegaram a US$ 757 milhões de janeiro a setembro. As importações totalizaram US$ 108 milhões. Neste caso, a relação também pende favoravelmente para o Brasil, numa proporção de sete para um.

Os negócios ficam um pouco mais equilibrados com o Equador, que importou US$ 334 milhões dos empresários brasileiros e exportou US$ 334 milhões. A relação menos díspare em valores ocorre entre Brasil e Peru. Até setembro, foram exportados para os peruanos US$ 424 milhões (26% a mais que em 2003). O país vizinho comprou do Brasil US$ 256 milhões, no mesmo período. O estudo da CNI observa que o grande fluxo das exportações brasileiras para os países andinos somente ocorrerá a partir do sexto ano, quando deverá entrar em vigor a liberação de tarifas alfandegárias. Embora se registrem situações específicas, os países da CAN optaram por concentrar entre seis e quinze anos a abertura da grande massa de comércio com o Brasil. No caso da Colômbia, 24% das vendas brasileiras estarão livres ao fim do primeiro ano de vigência do acordo. A Venezuela vai liberar em dez anos 43,4% das exportações brasileiras.