Título: Amorim pede voto de confiança
Autor: Gisele Teixeira
Fonte: Gazeta Mercantil, 16/12/2004, Internacional, p. A-11

Foi um pedido aos empresários. Para o ministro, os problemas com a Argentina são naturais. O ministro das Relações Exteriores, Celso Amorim, pediu um voto de confiança aos empresários do Mercosul. Em Belo Horizonte, onde começou ontem a reunião semestral do Conselho do Mercado Comum, o chanceler minimizou os atritos com a Argentina e disse que o Mercosul vive um bom momento. Para ele, os problemas com o país vizinho são "naturais dentro de relações intensas". "Entre países pequenos, ou até em grandes, mas que estão distantes ou de costas uns para os outros, não há dificuldades, apenas indiferença recíproca", disse. Amorim lembrou que as vendas para a Argentina este ano serão recordes e que o comércio recuperou seu dinamismo.

Amorim comparou a rapidez com que o Mercosul se desenvolveu a um avião. "Nós avançamos com a velocidade de um Concorde e tendo naturalmente, como somos países em desenvolvimento, as turbinas de um avião da Embraer, que é muito bom, mas que não estava ainda preparado para viajar duas vezes a velocidade do som, que foi o que nós efetivamente fizemos."

Na última terça-feira, o ministro da Economia da Argentina, Roberto Lavagna, defendeu a manutenção do Mercosul como união aduaneira e não uma volta ao status apenas de livre comércio, como pedem alguns empresários brasileiros. No entanto, defendeu o uso de salvaguardas e a não liberalização do comércio de veículos em 2006, como programado.

O presidente Argentino, Nestor Kirchner, fez mistério até o último momento sobre a sua presença na reunião de cúpula na sexta-feira, em Ouro Preto. Mas confirmou sua participação. Kirchner não foi à Cúpula Sul-americana realizada em Cuzco (Peru), semana passada. Como os presidentes do Uruguai e Paraguai também não foram, deixaram o presidente Luiz Inácio Lula da Silva isolado como representante do Mercosul.

Salvaguardas

O tema salvaguardas domina os bastidores do encontro desde ontem e deve manter-se na pauta hoje, com a chegada de chanceleres e ministros da Fazenda dos quatro países. A Argentina quer impor barreiras à entrada de produtos brasileiros sempre que setores sensíveis de sua indústria sentirem-se prejudicados. Amorim disse que a questão está sendo tratada de "forma serena" e classificou de "louvável" o esforço da Argentina para industrializar-se. "Há uma necessidade de se encontrar soluções criativas."

Segundo Amorim, o Brasil precisa tratar de todos os problemas do comércio bilateral de modo inteligente e razoável, que permita que se continue avançando na integração, reconhecendo que há assimetrias. "Neste momento elas favorecem mais o Brasil, mas poderá haver momentos, como no passado ocorreu, que favoreçam mais a Argentina. Temos que trabalhar com espírito construtivo porque o Mercosul é um grande acervo positivo."

Amorim acrescentou que um bom exemplo do vigor do Mercosul é que há uma "fila" de países interessados em negociar com o bloco, como Canadá, Coréia, México e Japão. "Apenas nós é que padecemos um pouco desse instinto de auto-flagelação." Durante o encontro estão sendo celebradas as adesões de Equador, Venezuela e Colômbia como membros associados do Mercosul. Chile, Bolívia e Peru já possuem este status.

Inspirado, Amorim citou Carlos Drummond de Andrade em seu discurso. Disse que às vezes os países ficam preocupados com "a pedra no meio do caminho", mas que não se pode esquecer que as mesmas nações possuem "duas mãos e o sentimento do mundo".