Título: Copom eleva Selic a 17,75% ao ano e deve encerrar ciclo de alta
Autor: Jiane Carvalho
Fonte: Gazeta Mercantil, 16/12/2004, Finanças, p. B-1

A decisão do Comitê de Política Monetária (Copom), do Banco Central, de elevar a Selic em 0,50 ponto percentual - para 17,75% ao ano -, pode ter encerrado o atual processo de alta na taxa básica. Segundo o mercado financeiro, a Selic neste patamar já seria suficiente para levar o IPCA a convergir para a meta de inflação de 5,1% definida para 2005. A decisão de elevar a taxa em 0,5 pp - unânime e sem viés - confirmou a expectativa da maior parte do mercado - e aumentou o juro real para 11%.

"A decisão do Copom foi correta porque mantém a previsibilidade das ações do BC, o que é fundamental para garantir a credibilidade da autoridade monetária", ressalta Alberto Oliveira, economista do Banif Investment Primus. A ata da reunião do Copom, a ser divulgada na semana que vem, pode confirmar a expectativa de que o ciclo de aumentos na Selic chegou ao fim. "Tudo indica que este possa ter sido o último aumento na taxa, que deve permanecer algum tempo neste patamar", diz Oliveira.

Uma série de indicadores reforça a opinião de fim do ciclo de alta. Os principais são a apreciação do real frente ao dólar, o recuo nas cotações do barril do petróleo e derivados no mercado internacional, a acomodação no ritmo de crescimento da atividade econômica e o melhora nas expectativas para a inflação de 2005. Outro fator, lembra o economista-chefe do ABN Amro Asset Manegement, Hugo Penteado, é a menor da preocupação com o chamado hiato do produto. "Os investimentos estão crescendo a uma taxa superior à verificada na economia, o que ajuda a reduzir a pressão inflacionária", diz Penteado.

O início do processo de queda da Selic, no entanto, só deve ocorrer no segundo semestre de 2005. "O BC deve esperar que este último aumento impacte integralmente na economia, o que só ocorre a partir de junho do ano que vem, para observar o comportamento dos preços", diz João Rabello, diretor superintendente do banco Fibra.

Entidades representantes do setor produtivo mantiveram as críticas que vêem fazendo quanto à condução da política monetária. Confederação Nacional da Indústria (CNI), Federação das Indústrias do Estado de São Paulo (Fiesp) e Associação Brasileira da Infra-estrutura e Indústrias de Base (Abdib) divulgaram nota considerando o aumento dos juros para 17,75% ao ano "incoerente", "excessivo" e "desnecessário".

A Fiesp afirmou não entender os motivos que, mais uma vez, levaram o Copom a aumentar a Selic. "Tão certo quanto dois e dois são quatro, das reuniões do Copom pode-se esperar sempre o mesmo resultado: alta da taxa de juros", salienta o presidente da entidade, Paulo Skaf. "Quando existe corrida para o dólar, sobem os juros, quando tem valorização cambial e moeda norte-americana sobrando, aumenta-se a taxa de juros também. Isto mais parece um jogo sem riscos... Mas, só para o sistema financeiro", comenta Skaf.