Título: Dólar cai 0,61%, com a expectativa de nova emissão soberana
Autor: Alessandra Bellotto
Fonte: Gazeta Mercantil, 01/09/2004, Finanças & Mercados, p. B-1

O dólar cedeu mais um pouco ontem, com a expectativa da volta do Brasil ao mercado internacional. No final do pregão, a moeda norte-americana era negociada a R$ 2,929, com queda de 0,61%. O crescimento do Produto Interno Bruto (PIB) e o recuo das cotações do petróleo também contribuíram para o desempenho positivo do dólar - que registrou a maior queda mensal (3,59%) desde junho de 2003 -, contrariando o movimento do risco-País, que retomou o patamar dos 520 pontos.

Segundo os analistas, os investidores estão otimistas com a retomada das captações externas pelo setor privado - na sexta-feira passada, por exemplo, os bancos Bradesco e Votorantim emitiram US$ 100 milhões em bônus cada - e também com a iminência de uma operação da República. "O prêmio de risco subiu um pouco, mas ainda assim o câmbio encerrou abaixo dos R$ 2,93. Isso reflete a expectativa de uma emissão soberana", disse o economista-chefe da SulAmerica Investimentos, Newton Rosa.

Na verdade, como se pode ler na nota abaixo, o Tesouro está realizando um "road show" para investidores na Europa. O operador de câmbio da Corretora Didier Levy, Júlio César Vogeler, confirmou que o mercado está otimista com a possibilidade de o Brasil fazer uma nova emissão, no valor de US$ 1 bilhão. Ele citou ainda a intenção manifestada por bancos e empresas como a Petrobras de aproveitar a oportunidade que vem se abrindo no mercado internacional para captar recursos. A estatal informou que poderia emitir cerca de US$ 500 milhões.

Para Vogeler, os potenciais emissores estão aguardando o risco cair abaixo dos 500 pontos. O que é bem possível, na sua avaliação, se for considerado o avanço do PIB. Rosa destacou que a economia brasileira é vista com bons olhos pelos investidores estrangeiros, o que favorece a oferta de recursos para o País. "Há uma procura maior por ativos do Brasil", completou o economista.

O PIB, segundo divulgou ontem o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), cresceu 4,2% nos primeiros seis meses do ano - a maior taxa de crescimento desde o primeiro semestre de 2000. Considerando apenas o segundo trimestre, o avanço é de 1,5% em relação aos primeiros três meses de 2004 e de 5,7% na comparação com o mesmo período de 2003.

"O resultado do PIB confirma o que já se suspeitava: a economia está crescendo forte, a uma taxa anualizada de 6% pelo terceiro trimestre consecutivo", disse Rosa.

Outro sinal positivo, segundo o economista, é de que o setor interno é quem está comandando o crescimento. O profissional destacou ainda a retomada do setor da construção civil.

Apesar de positivo, o mercado de câmbio registrou um movimento pequeno e pouca variação, informou Vogeler. Isso pelo fato de ter sido o último dia do mês. "Só entrou no mercado quem precisava fazer ajustes", disse o operador da Didier Levy.

Se por um lado o avanço do PIB contribuiu para colocar ânimo nos mercados acionários (a Bovespa subiu 2,09%) e de câmbio, no segmento de juros futuros acentuou o "estresse". O mercado, segundo Rosa, já estava cauteloso com a possibilidade de uma alta da taxa Selic. E o resultado do PIB, continuou, veio colocar um peso a mais no lado daqueles que apostam nesse aumento, uma vez que ameaça a inflação.

Os contratos negociados na BM&F chegaram a projetar taxas mais altas com a divulgação do PIB, mas no final da sessão apresentaram estabilidade. O DI de janeiro fechou projetando juro de 16,73%, contra 16,72% da véspera, e com giro de R$ 27,7 bilhões. Para Rosa, o recuo do petróleo pode ter aliviado a ameaça de uma alta imediata da Selic. Ontem, o barril do tipo WTI cedeu 0,37%, a US$ 42,12. Em oito sessões, a queda já supera US$ 7,0.

O próprio Tesouro aceitou pagar prêmios mais elevados no leilão de títulos públicos desta semana, acompanhando a elevação da curva de juros depois da ata.