Título: Leilão do BC tem pouca eficácia
Autor: Jiane Carvalho
Fonte: Gazeta Mercantil, 16/12/2004, Finanças, p. B-1

Dólar tem forte queda de 1,48%; tesourarias bancaram preço superior ao que foi oferecido. A queda de braço entre o Banco Central e as tesourarias levou o dólar comercial a registrar a maior queda percentual desde 28 de maio, quando fechou negociada a R$ 3,096 (um recuo de 1,79%, naquele dia). Ontem, o dólar caiu 1,48%, vendido a R$ 2,725. Por conta dos indicadores econômicos favoráveis do Brasil e da tendência mundial, o modelo de atuação do BC não tem sido suficiente para apreciar o dólar.

O retorno do BC ao mercado na semana passada, depois de dez meses sem fazer leilões de compra, criou a expectativa de que repetiria as operações de janeiro, quando entrava comprando acima do preço do mercado. Segundo operadores de câmbio, com exceção ao primeiro leilão desta nova safra, nos demais o BC não esteve disposto a pagar o preço pedido pelas tesourarias. Por conta disso, na semana passada um dos leilões terminou sem negócio.

Ontem, o BC anunciou o leilão quando o dólar estava a R$ 2,754 e, diferentemente do que se esperava, a moeda começou a cair. Fechou poucos negócios, porque as tesourarias voltaram a pedir acima da taxa. O impasse, segundo operadores das mesas de câmbio, é de difícil solução porque as tesourarias têm todos os instrumentos de pressão. "Com o fluxo positivo de dólares, a queda da moeda no mercado internacional e a saúde econômica do País, só uma atuação mais forte do BC segura o câmbio", diz Sidnei Moura, diretor-executivo da corretora NGO. Segundo Moura, é preciso saber quem vai ceder primeiro. "Os leilões como estão sendo feitos não vão dar grande resultado mas, por outro lado, se o BC cede ao desejo das tesourarias e paga mais, pode entrar em um círculo vicioso cujo final é difícil prever."

Segundo alguns operadores, o valor pedido pelas tesourarias não ficou muito acima do proposto pelo BC. "O mercado está incitando a atuação do BC, chamando a autoridade para o mercado, mas não tem dado resultado", diz Hélio Ozaki, gerente de câmbio do Banco Rendimento. "O problema é que, enquanto o mercado segue testando o BC e a autoridade mantém a lógica das atuações erráticas, a moeda continuará em queda".

Se pretender não apenas aumentar reservas, mas provocar uma apreciação do dólar, o BC terá de mudar. "O mercado é soberano e não há hoje qualquer razão concreta para que a moeda se aprecie aqui ou lá fora", diz Mario Paiva, da corretora Liquidez. "Só uma atuação mais agressiva do BC, comprando lotes maiores a um preço também melhor, poderia conseguir retirar o excesso de dólares e forçar uma alta."

Na Bolsa de Mercadorias & Futuros (BM&F), as projeções de juros futuros encerraram com estabilidade no curto prazo e queda no longo. O contrato de DI de abril de 2005, o mais negociado, registrou juro de 17,81% ao ano, o mesmo do ajuste anterior.