Título: Café dispara e supera barreira de US$ 1
Autor: Alexandre Inacio
Fonte: Gazeta Mercantil, 16/12/2004, Agribusiness, p. B-12

Cotações sobem 4,6% no dia e atingem maior patamar em quatro anos na Bolsa de Nova York. O mercado de café voltou a dar sinais de que cada vez mais a crise de preços foi superada. Depois de mais de quatro anos, os preços do café superaram a marca de 100 centavos de dólar por libra-peso e voltaram aos níveis históricos. Ontem, em Nova York, as cotações fecharam a 100,55 centavos de dólar por libra-peso, uma valorização de 4,6% em comparação ao pregão anterior. A última vez que o mercado fechou acima de 100 centavos foi em julho de 2000.

A valorização dos preços registrada ontem foi reflexo do relatório divulgado pela Organização Internacional do Café (OIC), que prevê para 2005 uma oferta de café inferior à demanda mundial. A produção global está estimada em 107 milhões de sacas, para um consumo de 114 milhões, ou seja, o déficit esperado para a próxima safra é de 7 milhões de sacas.

Produção menor

A retração da oferta mundial está baseada, principalmente, na queda da produção brasileira. A Companhia Nacional de Abastecimento (Conab) divulgou na semana passada que a produção brasileira para a safra 2005/06 será de, no máximo, 33 milhões de sacas. Para a safra 2004/05, a Conab confirmou uma colheita de 38,6 milhões de sacas. A menor oferta no Brasil, maior produtor e exportador mundial, é atribuída ao ciclo de baixa da produção da lavoura nacional.

"Os fundos entraram comprando no mercado e os preços finalmente subiram. Outro ponto importante foi o anúncio de que algumas torrefadoras pretendem aumentar seus preços (ver matéria abaixo)", afirma Rodrigo Costa, operador da Fimat Futures, de Nova York.

Além da oferta, o Green Coffee Association divulgou ontem que os estoques americanos de café caíram no mês de novembro. Das 5,4 milhões de sacas armazenadas em outubro, a entidade registrou estoques de 5,16 milhões de sacas, uma retração de 4,3%.

Mais do que os fundamentos de oferta e demanda, o mercado está oscilando de acordo com as variedades de café que estão sendo ofertadas. Está cada vez mais consolidado o fato de que a oferta de café arábica (de melhor qualidade) é cada vez mais escassa, diferente do robusta (de menor qualidade), que tem sua produção crescente. "Percebemos cada vez mais que o arábica está escasso no mundo", afirma Eduardo Carvalhaes, diretor do Escritório Carvalhaes.

Esse cenário é mais evidente quando se compara os preços das duas variedades. Em 2004, o arábica brasileiro está 77,4% mais caro do que o robusta, segundo dados da OIC. Esse ágio é o maior já registrado desde 2001 e 18 pontos percentuais acima da média dos últimos dez anos, que é de 59,4%. "Não é normal que haja um descolamento tão grande dos preços, mas as conjunturas explicam esse cenário", afirma Margarete Boteon, pesquisadora do Centro de Estudos Avançados em Economia Aplicada, da Universidade de São Paulo (Cepea/USP).

A safra 2005/06 do Brasil de café arábica será 24,6% menor. A produção irá recuar de 31,1 milhões para 23,5 milhões de sacas. Em contrapartida, a produção de robusta terá um acréscimo de 26,4%, passando de 7,6 milhões de sacas em 2004/05 para 9,6 milhões de sacas. "Com o aumento da produção de robusta há uma pressão de baixa para essa variedade, diferente do arábica, que terá uma oferta menor e os preços com tendência de alta", diz Margarete.

Mercado interno

Acompanhando a tendência do mercado externo, as diferenças de preços entre o arábica e o robusta também são mantidas. De acordo com o indicador de preços do Cepea do mês de novembro, a saca de café arábica foi cotada a R$ 240,38, o maior preço dos últimos doze meses. Por outro lado, os preços do robusta fecharam o mês em uma média de R$ 136,73 por saca. "Essa é a maior diferença de preços entre as duas variedades desde que o indicador de preços do robusta foi criado em 2001", afirma a pesquisadora do Cepea.

Os atuais preços do café no mercado internacional e o aumento da demanda por cafés de qualidade superior farão com que as previsões de alcançar US$ 2 bilhões em receita de exportação esse ano sejam atingidos, segundo previsões do Conselho dos Exportadores de Café do Brasil (Cecafé). O desempenho será 28,2% superior aos US$ 1,56 bilhão obtidos no ano passado. O aumento da receita com os embarques acontece em um momento delicado para todo o setor exportador, já que o dólar tem registrado consecutivas quedas em relação ao real, o que já preocupa os agentes do agronegócio.