Título: Usinas anteciparão moagem em 2005
Autor: Alexandre Inacio
Fonte: Gazeta Mercantil, 15/12/2004, Agribusiness, p. B-12

Oferta de etanol no início do próximo ano pode ser 84% maior, atingindo 700 milhões de litros. As usinas de cana-de-açúcar irão antecipar em um mês, para março, a colheita e o processamento da safra do próximo ano. O objetivo da medida é garantir o abastecimento de álcool para o mercado interno.

Ao antecipar a colheita, a indústria moageira sacrifica a produtividade da lavoura, mas garante uma oferta maior em um período em que tradicionalmente o abastecimento é mais apertado.

Com a antecipação, a oferta de álcool será 84% maior, chegando a 700 milhões de litros no final de abril. Tradicionalmente, o volume de etanol produzido nessa época é de 380 milhões de litros. Na safra 2004/05 serão produzidos 13,06 bilhões de litros, volume 17% maior que o processado em 2003/04.

A estratégia de antecipar a colheita e reduzir a produtividade de cana foi utilizada no ano passado, quando o recém-empossado ministro da Agricultura, Roberto Rodrigues, fez um apelo para que as indústrias não deixassem o mercado desabastecido. Naquela ocasião, o ministro solicitou que até o final de abril fossem produzidos 600 milhões de litros de álcool, que garantiriam o abastecimento normal do mercado brasileiro.

Interesse do setor

"Esse ano não teve nenhum pedido do governo. É do interesse dos próprios produtores que não falte álcool no mercado interno", afirma Maurílio Biagi Filho, presidente da Usina Moema, ao garantir que irá antecipar seu processamento de cana em 2005.

O aumento da oferta de álcool para o início do ano é motivada pelo crescimento das vendas de carros bicombustível no mercado interno e pelo aumento dos preços do petróleo no mercado internacional, que tem impacto direto sobre os preços da gasolina. "A demanda é crescente. Além dos preços, existe uma retomada do interesse pelo álcool e uma demanda para exportação, motivada por questões ambientais", diz Tarcilo Rodrigues, diretor da consultoria Bioagência.

Atualmente, na avaliação de Rodrigues, as usinas têm uma leve tendência para a produção de álcool, que deve ser ampliada nos próximos anos. "Moendo 320 milhões de toneladas de cana, 51% da safra é destinada para álcool e 49% para produção de açúcar. Processando o mesmo volume, as indústrias têm capacidade para chegar a 58% de álcool e 42% de açúcar", afirma.

Produção de álcool

Para a safra 2003/04 a produção de álcool é estimada em 13,06 bilhões de litros para a região Centro-Sul, segundo a União da Agroindústria Canavieira de São Paulo (Unica). "Esse volume está aquém do ideal para o mercado", afirma Júlio Maria Borges, diretor da JOB Consultoria, ao estimar que 500 mil litros a mais contribuiriam para um abastecimento mais tranqüilo.

De acordo com o consultor, a safra deste ano não precisou ser antecipada, pois havia estoque de álcool no mercado. "Além disso, choveu muito no início do ano, o que acabou atrasando a colheita e fazendo com que o processamento da cana acontece no período tradicional, que é a segunda quinzena de abril".

Apesar de a produção de álcool para esta safra estar estimada entre 13 bilhões e 13,2 bilhões de litros, Borges acredita que exista uma capacidade instalada para se produzir até 17 bilhões de litros. "Essa capacidade pode ser atingida sem ser feito qualquer tipo de investimento. Basta haver o interesse das usinas em virar a chave", afirma.

Independente da antecipação da colheita da safra do ano que vem, o processamento deste ano está atrasado. As usinas costumam parar os trabalhos no início de dezembro, mas há quem ficará trabalhando até 22 de dezembro. "Acreditamos que ficará um pouco de cana para ser moída em 2005", afirma Antonio de Padua Rodrigues, diretor da Unica.

"As chuvas que caíram no final da colheita atrasaram o processamento cana nesse final de safra", diz Biagi Filho. Segundo o usineiro, sua indústria já encerrou os trabalhos de 2004, com um processamento de 3,91 milhões de toneladas, volume 11,7% superior às 3,5 milhões de toneladas moídas na safra passada.