Título: CNI alerta para esgotamento da capacidade em três setores
Autor: Luciana Otoni
Fonte: Gazeta Mercantil, 01/09/2004, Indústria & Serviços, p. A-17

Máquinas e equipamentos, têxteis e madeira têm sinais de saturação. A indústria acompanha com "certa apreensão" a materialização dos investimentos em produção e questiona se os aportes de capital darão resposta a tempo de evitar o estrangulamento em alguns setores. A Confederação Nacional da Indústria (CNI) subdividiu os segmentos e identificou que as indústrias de máquinas e equipamentos, têxtil e de madeira são as que apresentam o maior risco de esgotamento no curto prazo. Para essas empresas, não está descartada a ocorrência de uma exaustão na produção ainda este ano.

"O risco de estrangulamento da produção não existe de forma generalizada para todo o setor industrial, mas se aplica a alguns setores. Há indicadores, como o crescimento da importação de máquinas e equipamentos, que mostram o aumento dos investimentos. A questão mais importante agora é saber se esses investimentos ocorrerão de forma mais rápida nos setores que apresentam o maior risco de exaustão", afirmou Paulo Mol, um dos economistas responsáveis pelo relatório sobre capacidade instalada do setor industrial divulgado ontem pela CNI.

A possibilidade de risco de estrangulamento, ainda este ano, nas linhas de operação das fábricas de máquinas e equipamentos, das indústrias têxteis e de madeira permanece dependente de dois fatores, na visão da CNI: rápida materialização dos investimentos e maior ou menor expansão da produção nos últimos meses do ano.

No segundo grupo de maior risco estão as indústrias de metalurgia básica, as montadoras de veículo, as indústrias de material elétrico, de produtos de metal, de plásticos e de equipamentos médicos. Nesses segmentos, as empresas operam próximos do recorde de produção, mas ainda possuem alguma folga na capacidade instalada. "Essas são empresas dinâmicas, que estão exportando muito e que apresentam o mais alto nível de utilização da capacidade instalada dos últimos cinco anos. Para esse caso, os projetos de investimento têm que começar de imediato porque o risco é previsto para 2005", informou Paulo Mol.

O terceiro grupo de risco é formado pelas indústrias de alimentos, minerais não-metálicos, papel e celulose, mobiliário, perfumaria e artigos de limpeza e transporte. As empresas desses subsetores operam com elevados níveis, mas possuem uma considerável folga de produção no parque produtivo. "Esse grupo opera num nível forte e com folga. São as empresas mais preparadas e em situação mais confortável para atravessar um período longo de crescimento", avaliou o economista.

As indústrias farmacêutica, de bebidas, vestuário e calçados compõem o quarto grupo de risco e apresentam os maiores níveis de ociosidade entre os setores pesquisados. De acordo com o levantamento da CNI, para esses fabricantes de bens de consumo semi e não-duráveis dependentes da renda no mercado interno, a produção média do segundo trimestre está, no mínimo, 15% aquém do ponto máximo de produção.

A identificação dos riscos de estrangulamento foi feita com base na apuração do hiato da produção. Por esse método, o cálculo da utilização da capacidade instalada considera a diferença entre a produção num determinado tempo (no caso entre abril e junho) e o produto potencial (no caso os últimos cinco anos).

No relatório, a CNI enfatizou que a continuidade do crescimento está fundamentalmente dependente dos investimentos. O incremento das importações de bens de capital, de 18,2% entre abril e junho deste ano, é um dos indicadores que atestam que os aportes de capital estão em curso, apesar de ainda não se saber em quais setores esses investimentos estão sendo direcionados.

Ontem, o IBGE divulgou taxa de crescimento de 11,7% no índice de Formação Bruta de Capital Fixo no segundo trimestre de 2004 em relação a igual período de 2003. Ainda nessa linha, os desembolsos do Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES) foram ampliados em 33% no primeiro semestre deste ano frente a igual período de 2003.

"Um dos problemas do investimento é que 70% são feitos com recursos próprios das empresas, estão pulverizados e são difíceis de serem identificados. E também devemos ressaltar que a redução dos juros seria importante porque quanto mais barato forem os investimentos mais garantias teremos que o crescimento terá sustentabilidade", defendeu o economista.