Título: Governo e IBM investem na capacitação de mão-de-obra
Autor: Vicente Vilardaga
Fonte: Gazeta Mercantil, 01/09/2004, Telecomunicação & Informática, p. A-23

Novo centro vai difundir conhecimento sobre tecnologia de código aberto. O que em outubro do ano passado era apenas uma declaração de intenções vira agora um pacto entre o governo federal e a IBM, maior empresa global de Tecnologia da Informação (TI), a favor do software livre. A partir de hoje, entra em funcionamento uma nova estrutura de treinamento e suporte de ambientes baseados em programas de código aberto e compartilhamento de informações. Governo e IBM tratam de finalizar a instalação de um centro de difusão de tecnologia e conhecimento em uma área cedida pela Universidade de Brasília (UnB). A partir desse centro será comandada uma ofensiva de formação de agentes multiplicadores da cultura do software livre e de capacitação de mão-de-obra para o novo negócio.

O centro de difusão contará com laboratório, biblioteca, salas de aula, call center e um portal colaborativo na internet. Esse centro comandará o treinamento, a partir de 8 de setembro, de 700 profissionais dos núcleos de tecnologia educacional (NTE) do Ministério da Educação. Há 325 destes núcleos espalhados pelo País. Eles prestam suporte educacional e pedagógico para a rede de escolas públicas, são formados por cinco pessoas em média, e incluem, invariavelmente, profissionais da área de TI. Esse é o grupo alvo da primeira iniciativa de treinamento da parceria entre governo e IBM.

O governo é representado no projeto pelo Instituto de Tecnologia da Informação (ITI), órgão do Ministério da Casa Civil que encabeça um trabalho público de defesa e propagação do conhecimento associado ao software livre, em particular do sistema operacional Linux, concorrente, sem custo de aquisição, do Windows, da Microsoft. No final de 2003, ITI e IBM assinaram uma carta de intenções com o objetivo de unir esforços no desenvolvimento de soluções baseadas em código aberto. Ao longo dos últimos meses estudou-se uma forma de transformar esse objetivo em algo prático.

A sustentação econômica do centro de difusão, do portal e da rede de treinamento será garantida pela IBM até 2006. Cerca de US$ 1 milhão serão destinados ao programa. Segundo Saulo Porto, gerente de relações governamentais da multinacional, os recursos sairão da Fundação IBM. "O projeto faz parte da área de responsabilidade social da empresa", diz. "A doação da IBM cobre o funcionamento do centro até 2006, quando esperamos que se torne auto-sustentável".

Além de IBM e ITI, há uma empresa nacional, especializada em capacitação de pessoal em Linux chamada 4Linux, que está envolvida com o projeto. Foi desenvolvido um modelo de treinamento para os funcionários do governo focado em rede e em administração de sistemas. Para o presidente do ITI, Sérgio Amadeu, a parceria com a IBM é uma oportunidade a mais para o governo incentivar a adoção da tecnologia de código aberto em sua estrutura. "O centro de difusão permitirá a intensa disseminação do conhecimento pelo País, além de ampliar a inteligência tecnológica nacional", afirma. Neste mês, o centro começa, também, a organizar seminários para funcionários especializados em TI de todos os Ministérios.

A posição da IBM em relação ao software livre é oposta à da Microsoft, que defende o modelo de desenvolvimento tecnológico e de negócios baseado nos códigos proprietários e na remuneração pela licença. A IBM trabalha orientada pela busca do aumento da remuneração pelos serviços e está alinhada com as políticas de tecnologia do governo brasileiro.

Para o presidente da IBM Brasil, Rogério Oliveira, a possibilidade de contribuir para que o governo crie referências em tecnologia com padrões abertos no setor público é importante, "porque a computação baseada nesses standards oferece benefícios como escalabilidade e redução de custos."

"Para países em desenvolvimento como o Brasil e governos focados em incentivar o desenvolvimento econômico e a diversificação da indústria de tecnologia da informação no país, os padrões abertos podem desempenhar um importante papel na estratégia governamental", diz. "Uma estratégia, aliás, implementada por mais de 60 países do mundo e mais de 22 estados americanos, que já adotaram o open source."