Título: Brasileiros vivem processo acelerado de obesidade, diz IBGE
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Fonte: Gazeta Mercantil, 17/12/2004, Nacional, p. A-4

Novos hábitos alimentares, com o maior consumo de comida industrializada, biscoitos, frituras e refrigerantes, deram à população adulta novas formas físicas. Nos últimos 30 anos o brasileiro ganhou mais peso e a briga com a balança atinge quatro em cada dez pessoas com 20 anos ou mais de idade. São 38,8 milhões de adultos com excesso de peso, dos quais 10,5 milhões são considerados obesos para os padrões estabelecidos pela Organização Mundial de Saúde e pela Organização para Alimentação e Agricultura (FAO). Os dados estão na segunda etapa da Pesquisa de Orçamentos Familiares 2002-2003 (POF) divulgada nesta quinta-feira (16) pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE).

O chefe do Departamento de Nutrição da Faculdade de Saúde Pública da Universidade de São Paulo (USP), Carlos Augusto Monteiro, que acompanhou a pesquisa, destacou que associada à mudança de hábito alimentar, a falta de atividade física tende a aumentar a incidência de diabetes e hipertensão.

"A alimentação do brasileiro é rica em gordura e açúcares, enquanto deveria ser em cereais, proteínas, legumes e verduras, que são produtos ricos em vitaminas. Então, cada vez mais aumenta a densidade calórica, tornando-se mais difícil para o organismo digerir. Além disso, é cada vez menor o gasto de energia, pois hoje a maior parte das ocupações não exige que a pessoa tenha um grande esforço físico e o lazer da maior parte das pessoas acaba sendo assistir televisão", acrescentou Monteiro.

Para Monteiro, o estudo deve servir de alerta para os governos elaborarem políticas públicas de saúde, que vão desde ações de fiscalização nas indústrias de alimentos para impedir o uso das gorduras conhecidas como "trans" e que fazem mal ao coração, a incentivos aos agricultores para aumentarem suas plantações de frutas e verduras.

Quatro milhões de desnutridos

Cerca de quatro milhões de adultos brasileiros são considerados desnutridos. Mas eles representam apenas 4% da população, taxa considerada aceitável pela Organização Mundial de Saúde (OMS) e pela Organização das Nações Unidas para Alimentação e Agricultura (FAO).

Os padrões internacionais estabelecidos consideram como baixa exposição à desnutrição entre 5% e 10% da população com déficit de peso; moderada entre 10% e 20%; alta, entre 20% e 30%; e muito alta, acima de 30%, como é o caso da Etiópia (40%) e da índia (50%). A pesquisa revela que este contingente da população que não tem acesso a alimentos está restrito à região rural do Nordeste.

"Nas regiões Sudeste, Sul e Centro-Oeste, praticamente não há pessoas magras pela falta de alimento, enquanto no semi-árido nordestino há evidências de que uma parte da população adulta passa fome. Por isso, é nessa região que o governo tem que focalizar os programas contra a fome", disse Monteiro.

Ele explicou que a pesquisa do IBGE se baseia no acesso que as pessoas têm aos alimentos, seja pela compra, troca ou doação, e não apenas pela renda, como a maioria das estatísticas que detectam que o Brasil tem cerca de 30 milhões de pobres. Desta forma, Monteiro acredita que as próximas pesquisas do IBGE já não vão mais identificar o problema.

O estudo mostra, que nas grandes cidades, o déficit de peso atinge mulheres com até 35 anos de idade, devido ao efeito de dietas, e homens com mais de 74 anos, que tendem a emagrecer por causa de doenças ou pela própria constituição física.