Título: Criação de avestruz no Ceará visa à exportação.
Autor: Adriana Thomasi
Fonte: Gazeta Mercantil, 01/09/2004, Gazeta do Brazil, p. B-13

Empresários do Centro-Oeste e do Sudeste elegeram o estado para investir na atividade R$ 100 milhões até 2006. Os investimentos na criação de avestruz ganham reforço com o aporte de empresários paulistas, goianos, mineiros e cearenses, que devem aplicar, até 2006, montante superior a R$ 100 milhões no Ceará em projetos voltados para a exportação. "Clima quente, áreas disponíveis a preços atrativos, mão-de-obra, infra-estrutura portuária, via Terminal do Pecém, e proximidade dos centros importadores - a Europa está a sete horas de vôo - estimulam a expansão do setor", afirma o presidente da Associação de Criadores de Avestruz do Estado (Acace), Edimar Vieira Filho, que trabalha na captação de novos projetos. "O mercado europeu está na mira dos criadores e a porta de entrada é Portugal", afirma.

Pólo de criação

A idéia de transformar o Estado num pólo criador de avestruz para exportação passa, inicialmente, pela criação de aves para reprodução, de acordo com o presidente da Acace. "Em três ou quatro anos teremos condições de produzir em escala para abate", afirma. Vieira diz que está disposto a acompanhar de perto as novas iniciativas, para apoiar o bom desempenho da cadeia produtiva da avestruz. Pelas contas do dirigente, o setor conta com criadores em cerca de 60 municípios cearenses, com maior concentração em São Gonçalo do Amarante, Guaiuba , Vale do Jaguaribe e Sobral. O plantel estimado é de 6,5 mil animais, mas as chances são de ampliar para 10 mil aves, entre 2004/200. "Com as empresas âncoras, em breve poderemos atingir 20 mil animais", afirma Vieira, numa referência a projetos como da Avestruz Máster, Pé Forte, Aravestruz e Brasil Wall Street. O rebanho brasileiro, segundo Vieira é estimado em cerca de 150 mil cabeças.

Associação com caprinos

O Parque da Avestruz, dirigido pelo presidente da Acace, vai implementar um projeto no Vale do Jaguaribe no próximo ano. "A idéia é agregar criadores de ovinos de caprinos, interessados na avestruz", Os investimentos são estimados em R$ 5 milhões, envolvendo consórcio, fabricação de calçado, bolsas e cintos e curtume para beneficiamento da pele.

Os empresários dispostos a investir têm na mira um mercado que paga cerca de US$ 16,32 pelo quilo da carne e entre US$ 300 e US$ 400 o metro quadrado do couro - cada animal rende cerca de 1,2 metro. As plumas são cotadas a US$ 100 por tonelada e o Brasil importa 25 toneladas/ano. "Esse é um excelente negócio", afirma o diretor-presidente da Avestruz Master, Jérson Maciel, que compara o sabor da carne vermelha da ave ao do filé mignon. De acordo com o empresário, o avestruz só tem carne de primeira; é saborosa, e menos calórica do que a do frango e do peru.

Investimento de R$ 80 milhões

O grupo de Maciel projeta investir R$ 80 milhões no estado, no prazo de um ano e meio - o maior investimento da companhia que prevê investir um total de R$ 200 milhões no Nordeste. Do valor total do projeto cearense, R$ 50 milhões serão aplicados na aquisição da área, instalações, escritório e plantel. "Em 30 dias queremos ter avestruz colocada aqui e vamos continuar expandindo. A meta para o Estado é de mil casais adultos em postura", diz Maciel, considerando-se inicialmente as transações do escritório local.

O interesse no Ceará inclui área de 800 hectares a 1,2 mil hectares, em grande parte plana, num raio de 60 quilômetros de Fortaleza, e não se limita a uma única fazenda. Na segunda-feira, o empresário visitou áreas no Estado e optou pela instalação de uma fazenda de criação de avestruz e do abatedouro em São Gonçalo do Amarante, a cerca de 54 quilômetros de Fortaleza. "Vamos começar imediatamente a construção dos piquetes", diz. Uma área de 1,1 hectare dos 300 ha da fazenda Boa Esperança vai abrigar o abatedouro, que começa a ser construído em março de 2005, projeto orçado em cerca de R$ 18 milhões. Maciel prevê que o projeto vai gerar 1000 empregos diretos no Ceará.

Mercado externo

"Pretendemos exportar 95% da produção para Europa e Ásia", diz ao observar que a meta é formar um plantel de 10 mil casais de aves. No Ceará, as operações do abatedouro devem iniciar-se até o final de 2005. "Não começamos antes porque não existe avestruz em número suficiente", afirma e observa que esse será o terceiro maior abatedouro do mundo. O primeiro fica na África do Sul e o segundo pertence à própria Avestruz Máster e deverá entrar em operação no primeiro trimestre do próximo ano, na fazenda município de Bela Vista, a 50 quilômetros de Goiânia (GO), com capacidade de abate para mil aves/dia e equipado com tecnologia importada da África do Sul, Itália, Alemanha e produzida em parte no Brasil. Técnicos sul-africanos monitoram as obras. O projeto prevê investimento de R$ 16,5 milhões.

Ciclo completo

O diretor-presidente da Avestruz Máster informa que a partir da construção do abatedouro de Goiás, a empresa vai conclui o ciclo da cadeia produtiva que envolve a carne, couro, plumas e subprodutos. "A previsão é atingir 10 mil avestruzes em fase de abate no prazo de um ano", afirma. Em Goiás, o grupo controla seis fazendas, e começará com o abate de 200 aves/dia, a partir de abril, mas a tendência é aumentar o volume mensalmente, até chegar em seis meses a mil animais/dia. Na fazenda em Bela Vista, funciona o incubatório com capacidade para chocar 10 mil ovos/mês, restaurante padrão internacional e o frigorífico. A diferença de criação do rebanho bovino para um plantel de avestruz, de acordo com Maciel, é grande. Enquanto em um hectare se cria uma cabeça de boi, na mesma área é possível criar 8 casais - cada casal tem uma média de 15 filhotes. Cada filhote, com 11 meses, vale cerca de R$ 1,380 mil e pesa em torno de 100 a 110 quilos. A empresa comercializa as matrizes e compra os animais mediante contrato. "A partir desta semana, estamos comprando todos os filhotes de criadores do Estado, de um dia até 18 meses", informa.