Título: Impacto maior será nos alimentos
Autor: Cristina Borges Guimarães
Fonte: Gazeta Mercantil, 17/12/2004, Nacional, p. A-4

A correção da tabela do IR produzirá efeito sobre a demanda somente a partir de 2006. O aumento do salário mínimo para R$ 300 em maio e a correção da tabela do Imposto de Renda (IR) em 10% a partir de janeiro irá provocar um efeito renda que trará um benefício muito maior do que a redução da arrecadação. A opinião é do professor de economia da PUC-SP e presidente da Sociedade Brasileira de Estudos de Empresas Transnacionais e da Globalização Econômica (Sobeet), Antônio Corrêa de Lacerda. "A redução da arrecadação é um resultado de curto prazo. O aumento do salário e a redução da tributação promovem uma ampliação da renda disponível que aumenta o potencial de demanda", disse Lacerda.

O ministro do Trabalho, Ricardo Berzoini, avaliou que a correção da tabela deve provocar um impacto de R$ 2 bilhões no Orçamento. O limite de isenção do IR passará de R$ 1.058,00 para R$ 1.163,80. De acordo com o relator-geral da Comissão Mista de Orçamento, senador Romero Jucá (PMDB-RR), junto com o reajuste do salário mínimo, a correção da tabela deve representar gasto extra de R$ 5 bilhões na proposta orçamentária para 2005.

O salário mínimo terá um reajuste de 15,38%, o que significa um ganho de 9,3% acima da inflação. Para Lacerda, os bens primários serão os mais beneficiados pelo aumento do poder de compra. "Os demais setores serão beneficiados indiretamente", disse Lacerda. Esta também é a opinião do assessor econômico da Fecomercio-SP, Fabio Pina. "O consumo autônomo no Brasil é muito alto. Segundo o IBGE, 94% do salário é gasto. O consumo é voltado para produtos básicos. Logo os setores de alimentos e vestuário devem ser os mais beneficiados", disse Pina.

Efeito maior nos bens básicos

O diretor de economia da Associação Brasileira das Indústrias de Alimentação (Abia), Denis Ribeiro, acredita que o efeito da correção da tabela do IR será demorado, já que se refere ao exercício 2005 e as restituições só serão liberadas em 2006. Já o aumento do salário mínimo em maio apresentará resultados a partir de junho.

"Os orçamentos das classes de renda mais baixa contarão com uma liberação extra. Como 45% da população economicamente ativa ganha até três salários mínimos no Brasil, o impacto será significativo", disse Ribeiro. De acordo com ele, grosso modo, o reajuste do salário mínimo 9,3% acima da inflação deve promover um aumento na demanda de alimentos da ordem de 4%.

Segundo Ribeiro, todos os segmentos da indústria de alimentação serão beneficiados, especialmente os voltados para a população de baixa renda, que tem seu consumo limitado a produtos da cesta básica. "O maior impacto deve ser observado na demanda por cereais, em toda a cadeia do trigo, frango, além de óleos e gorduras vegetais", disse ele.Pina acredita que a questão não é tão simples e o impacto do aumento do salário mínimo dependerá ainda da inflação futura. " O aumento real do salário pode ser corroído ao longo do ano. A inflação futura tende a ser menor que a passada, por isso pode realmente haver aumento do consumo", disse Pina. Para ele, como quase não existe poupança, quase todo o orçamento familiar deverá ser revertido em consumo no caso da população de mais baixa renda.

O impacto da correção da tabela, segundo Pina, promoverá uma sobra de caixa muito pequena para a classe média e por isso seu efeito será menor do que o do aumento do salário mínimo. "A correção da tabela não será um grande alento", disse ele.

O presidente da Confederação Nacional da Indústria (CNI), Armando Monteiro Neto, também disse ontem que o aumento do salário mínimo e a correção na tabela do IR são positivos para a economia brasileira. Armando Monteiro Neto afirmou que as duas medidas estimularão a demanda doméstica, com aumento real de renda do trabalhador e uma certa recuperação da renda da classe média.