Título: Indústria projeta crescimento de 5,5% para o próximo ano
Autor: Luciana Otoni
Fonte: Gazeta Mercantil, 17/12/2004, Nacional, p. A-5

Financiamento, infra-estrutura e apreciação do real preocupam. A expansão das exportações e a reação do mercado interno vão garantir ao setor industrial um crescimento de 6,2% em 2004, uma taxa superior à expansão da economia brasileira. O bom desempenho abre espaço para uma elevação de 5,5% na indústria da transformação em 2005, sustentada pela demanda doméstica e pela retomada dos investimentos. Apesar das boas perspectivas traçadas para o próximo ano, três variáveis preocupam os industriais: custo dos financiamentos, velocidade de recuperação da infra-estrutura e desvalorização do câmbio.

Ao comentar a reação positiva do setor produtivo, o presidente da Confederação Nacional da Indústria (CNI), Armando Monteiro Neto, classificou como excessiva a elevação dos juros e defendeu o estímulo ao investimento como eixo da política de desenvolvimento.

"Sabemos que as altas taxas de juros são um problema histórico. Não se discute a estabilidade, mas ela não pode nos tornar reféns de uma política excessivamente monetarista", reiterou.

Monteiro Neto lamentou a decisão do governo em manter a Taxa de Juros de Longo Prazo (TJLP) fixada em 9,75% ao longo do primeiro trimestre de 2005 e argumentou que a reação do ambiente de negócios permite a redução simultânea da Selic e da TJLP, que é a taxa de referência nos financiamentos do Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES).

Na tentativa de vencer as resistências ao corte do custo do crédito, os industriais entregaram ao governo uma proposta de redução dos spreads (diferença entre o custo de captação de recursos pelos bancos e a taxa cobrada dos tomadores finais de empréstimos) cobrados pelo BNDES. A proposta baseia-se em uma redefinição do spread e da readequação dos prazos de amortização das dívidas e do prazo de carência.

A idéia é deslocar o maior nível de cobrança dos empréstimos, que atualmente incide nos primeiros anos do financiamento, para os últimos anos.

Segundo o presidente da Confederação Nacional da Indústria (CNI), essas mudanças abrangeriam o chamado spread primário (BNDES) e gerariam efeitos nas demais taxas cobradas pelos agentes repassadores. "Se não é possível reduzir o spread no curto prazo, nos apresentamos essa proposta de corte nos spreads do BNDES", afirmou.

Se em 2004 o motor da expansão foram as exportações, seguidas pela reativação do mercado doméstico, em 2005 ocorrerá uma inversão por meio da guinada do investimento privado e da consolidação da demanda de consumo como os vetores principais.

No cenário para o próximo ano, a CNI projetou que o câmbio retornará gradualmente ao nível de R$ 3,00; que a relação dívida pública/PIB recuará dos atuais 53% para 50% e que a taxa de juros (Selic) chegará em dezembro de 2005 em 14%. A taxa de inflação foi calculada em 6% e para a balança comercial foi estimado saldo de US$ 28,5 bilhões e importações de US$ 71,7 bilhões.

Variável monitorada pelo Banco Central na definição da política de juros, a capacidade instalada não se apresenta como um impedimento. Ontem, Monteiro Neto procurou assegurar que as indústrias terão capacidade para atender simultaneamente aos mercados interno e externo e que não há risco de choques de oferta.

"Não acredito que haverá barreiras intransponíveis, avaliou. Em meados do ano um estudo da entidade apontou os setores de siderurgia, metalurgia, papel e celulose e químico como os que apresentam o mais elevado nível de utilização da capacidade de produção.

A melhora do ambiente de negócios e dos indicadores da economia tendem a manter em alta a confiança dos industriais no governo do presidente Luiz Inácio Lula da Silva.

Ontem, Monteiro Neto deu nota sete para a administração do presidente, mas disse que a nota de Lula é maior que a de seu governo. "Ele tem a capacidade de dialogar com diferentes setores", disse o presidente da CNI.